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domingo, 4 de agosto de 2019

Patrões e Gerentes

Ney Nunes

    Um olhar mais atento para a história recente do Brasil, no que tange aos ocupantes da cadeira presidencial, poderá ser de grande valia para termos uma compreensão do que está se passando na atualidade em nosso país. Fazendo um breve retrospecto, desde o fim da ditadura militar-empresarial imposta com o golpe de 1964, veremos no cargo de primeiro mandatário da nação figuras bastante díspares, considerando suas características pessoais, sociais e políticas. Mas, apesar disso, e algumas vezes até contrariando expectativas, todos cumpriram, no essencial, uma determinada tarefa.

   Examinando o perfil pessoal de José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique, Lula, Dilma Russef e Temer, encontraremos traços distintos, variando entre a simpatia e a arrogância, a prudência e o açodamento, a lealdade e o cinismo. Além desses, muitos outros ainda poderiam ser atribuídos. As origens sociais também são as mais diversas, nelas encontraremos desde o funcionário público, o intelectual, o operário e até um playboy. No aspecto político, as trajetórias também guardam distância, temos aqueles que serviram a ditadura e outros que fizeram oposição, uns eram considerados de direita, alguns de centro e outros de esquerda.

   Quando voltamos nossa atenção para o atual presidente, verificamos que o seu perfil pessoal, social e político difere em muitos aspectos dos antecessores. Temos hoje um presidente de personalidade transtornada, adorador de torturadores e assassinos, obcecado por servir aos EUA, despejando diariamente nas mídias verdadeiras diarreias verbais. Trata-se de um ex-militar, quase expulso das fileiras do exército, que virou político profissional e líder de um clã familiar de extrema direita. Mas apesar dessas terríveis peculiaridades, ele também cumpre uma tarefa em comum com os anteriores.


A miséria permanece e se expande.
   
     A essa altura os leitores já devem estar se perguntando: que tarefa em comum será essa? Observem que todos os mandatos que citamos, incluindo o atual, não promoveram ou tentaram promover nenhuma mudança estrutural no sistema econômico e político a que estamos submetidos. Os pilares desse sistema foram e são mantidos, em que pese as agruras que causam à esmagadora maioria do povo brasileiro. A exploração do povo trabalhador, a submissão diante das potências imperialistas e a corrupção dos recursos públicos, essas três irmãs siamesas, seguem aprofundando a desigualdade e a miséria, colocando nosso país no rumo da barbárie.

   Quanto a tarefa em comum, esta é designada pelos verdadeiros donos do poder, o grande empresariado e seus sócios imperialistas.  Ela consiste no gerenciamento do sistema político, promovendo o essencial, ou seja, a continuidade do capitalismo e sua máxima rentabilidade. Nisso reside a diferença fundamental entre o patrão e o gerente, o primeiro determina o objetivo, ao segundo cabe encontrar os meios de alcançá-lo. Não cultivemos ilusões, para os verdadeiros donos do poder, desde que o objetivo seja alcançado, pouco importam quais sejam os gerentes e os meios utilizados.

    Às favas os patrões e os gerentes!


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