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quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Gramsci sobre a Função do Reformismo

                                                                                                                       Antonio Gramsci
                                                             Artigo não assinado, L'Unità, 05/02/1925*.

     Precisamente para sabotar a revolução, isto é, para salvar a burguesia do avanço da classe operária, os reformistas têm conduzido, de traição em traição, os trabalhadores italianos para a derrota, criando assim as condições favoráveis ao desenvolvimento e sucesso do fascismo. Antes da guerra, os reformistas exerceram no Partido Socialista a função de contra-revolucionários, fazendo aceitar às massas que seguiam este partido, ainda que em minoria, a sua ideologia social-pacifista. Permanecendo no Partido Socialista no pós-guerra e conservando nas sua mãos as maiores organizações operárias, os reformistas puderam, através de desvios de toda a espécie, continuar a sua obra contra-revolucionária, com a sistemática sabotagem de todos os movimentos que podiam desembocar na luta do proletariado para a conquista do poder. Exemplo típico: a ocupação das fábricas.
Antonio Gramsci
     Os reformistas, depois de terem sabotado o movimento revolucionário, não conquistaram bastantes títulos de glória aos olhos da classe burguesa para lhe merecerem a confiança. Devem mostrar agora que não só estão dispostos a sabotar o movimento operário revolucionário, mas também combatê-lo, isto é, devem assegurar à burguesia de que a sua tática e o seu programa de governo não são diversos da tática e do programa dos trabalhistas ingleses e dos sociais-democratas alemães. Como os trabalhistas ingleses, os reformistas italianos seriam, no momento próprio, bons monárquicos e bons administradores dos banqueiros italianos, como os sociais-democratas alemães (republicanos com grande pesar, confessou-o o presidente Ebert) saberiam em caso de necessidade, fazer funcionar as metralhadoras contra os comunistas, seguindo, nada mais nada menos, o exemplo de Hamburgo¹.

* Antonio Gramsci, Escritos Políticos, Vol. IV, p. 11, Seara Nova, Portugal, 1978.
¹ Gramsci refere-se à insurreição comunista de setembro de 1923, reprimida duramente pelo governo social-democrata.


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