Ney Nunes
04/06/2017
Existem alguns momentos especiais na História, entre eles estão aqueles onde se descortinam perante o grande público os mecanismos ocultos do exercício do poder político. O Brasil na atualidade vive justamente um desses raros momentos especiais.
As
instituições do chamado “estado de direito”, ou seja, da democracia burguesa em
nosso país, foram reestabelecidas com o fim da ditadura empresarial-militar
instalada com o golpe de 1964. Isto se deu formalmente com a constituição de 1988,
mas seus mecanismos foram reintroduzidos gradualmente a partir das eleições diretas
para governador realizadas em 1982. Temos, desse modo, uma experiência de pelo
menos três décadas sob a égide da democracia burguesa. A versão difundida todo esse
tempo, transformada em senso comum, dizia sobre o poder emanado do povo aos
seus representantes pelo sistema eleitoral. Os partidos e candidatos eleitos
seriam, portanto, legítimos representantes da maioria do eleitorado. Reside exatamente
nesse ponto um dos pilares essenciais da sustentação político-ideológica do
regime democrático burguês.
A
divulgação das delações da Odebrecht e mais recentemente da JBS, no âmbito de uma
aguda crise política, econômica e social, onde a disputa entre facções
burguesas se radicalizou, acabando por permitir que viesse a público a verdadeira
natureza do regime político vigente em nosso país. O grande público tomou conhecimento
de algo que já desconfiava: a representação política é comprada pelos grandes grupos
empresariais, não correspondendo, portanto, a intenção dos votos depositados de
boa-fé pelos eleitores nas urnas, ou seja, a representação da vontade da maioria
dos eleitores é permanentemente fraudada pela classe dominante. Cai por terra
assim um dos pilares da sustentação ideológica da democracia burguesa, desmascarada
enquanto democracia dos ricos.
A compra por meio dos financiamentos de campanha,
legais e ilegais, ou simplesmente por suborno aos agentes públicos, é prática comum
do grande empresariado nacional e multinacional. É dessa forma que vereadores,
prefeitos, deputados, senadores, ministros, governadores, presidentes,
magistrados, diretores de estatais, conselheiros de tribunais de contas, etc.,
se transformam em meros despachantes das ordens emanadas pela grande burguesia.
São as regras de funcionamento do próprio sistema que fomentam e acobertam a
corrupção. O poder econômico prevalece nas eleições e os partidos no governo têm
privilégios antidemocráticos. É dessa forma que as máfias políticas burguesas
se revezam no poder.
A especialidade desse momento histórico não
deve ser desperdiçada. A classe trabalhadora, consciente dos mecanismos fraudulentos
dessa democracia de fachada, tem no interior do seu próprio movimento de lutas contra
as reformas antipovo a oportunidade de iniciar a construção de novas formas de
organização social e política, verdadeiramente democráticas e independentes desse
regime político apodrecido que, em última instância, atende aos interesses do
grande empresariado.
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