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sexta-feira, 6 de agosto de 2021

A Função do Reformismo*

Antonio Gramsci


[...] Precisamente para sabotar a revolução, isto é, para salvar a burguesia do avanço da classe operária, os reformistas têm conduzido, de traição em traição, os trabalhadores italianos para a derrota, criando assim as condições favoráveis ao desenvolvimento e ao sucesso do fascismo. Antes da guerra, os reformistas exerceram no Partido Socialista a função de contra-revolucionários, fazendo aceitar às massas que seguiam este Partido, ainda que em minoria, a sua ideologia social-pacifista. Permanecendo no Partido Socialista no pós-guerra e conservando nas suas mãos as maiores organizações operárias, os reformistas puderam, através de desvios de toda espécie, continuar a sua obra contra-revolucionária, com a sistemática sabotagem de todos os movimentos que podiam desembocar na luta do proletariado para a conquista do poder. Exemplo típico: a ocupação das fábricas¹.

Operários armados ocupam fábricas no Biênio Vermelho 1919-20.


[...] Os reformistas, depois de terem sabotado o movimento revolucionário, não conquistaram bastantes títulos de glória aos olhos da classe burguesa para lhe merecerem confiança. Devem mostrar agora que não só estão dispostos a sabotar o movimento operário revolucionário, mas também a combate-lo; isto é, devem assegurar à burguesia de que sua tática e o seu programa de governo não são diversos da tática e do programa dos trabalhistas ingleses e dos sociais-democratas alemães. Como os trabalhistas ingleses, os reformistas italianos seriam, no momento próprio, bons monárquicos e bons administradores dos banqueiros italianos, como os sociais-democratas alemães (republicanos com grande pesar, confessou-o o presidente Ebert) saberiam, em caso de necessidade, fazer funcionar as metralhadoras contra os comunistas, seguindo nada mais nada menos o exemplo de Hamburgo².

* Trechos do artigo “A Função do Reformismo em Itália”; L’Unitá, 05/02/1925.

¹  Movimento de greves e ocupações de fábrica, o Biênio Vermelho de 1919-1920 na Itália, que deslanchou com a ocupação da fábrica da Fiat em Turim. Em outubro de 1919, mais de 50 mil trabalhadores já estão organizados em Conselhos, em cerca de trinta fábricas. Mas isso provoca a reação não só dos empresários, mas também dos sindicatos e da direção do PSI. A Federação dos Metalúrgicos acusa Gramsci e seus camaradas de serem “sindicalistas revolucionários”, “anarco-sindicalistas” e de sabotarem o papel e a ação dos sindicatos tradicionais.

² Gramsci refere-se a insurreição comunista de setembro de 1923, reprimida duramente pelo governo social-democrata alemão.

Edição: Página 1917.

 

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