Antonio Gramsci
[...] Precisamente para
sabotar a revolução, isto é, para salvar a burguesia do avanço da classe
operária, os reformistas têm conduzido, de traição em traição, os trabalhadores
italianos para a derrota, criando assim as condições favoráveis ao
desenvolvimento e ao sucesso do fascismo. Antes da guerra, os reformistas
exerceram no Partido Socialista a função de contra-revolucionários, fazendo
aceitar às massas que seguiam este Partido, ainda que em minoria, a sua
ideologia social-pacifista. Permanecendo no Partido Socialista no pós-guerra e
conservando nas suas mãos as maiores organizações operárias, os reformistas
puderam, através de desvios de toda espécie, continuar a sua obra
contra-revolucionária, com a sistemática sabotagem de todos os movimentos que
podiam desembocar na luta do proletariado para a conquista do poder. Exemplo
típico: a ocupação das fábricas¹.
Operários armados ocupam fábricas no Biênio Vermelho 1919-20. |
[...] Os reformistas, depois
de terem sabotado o movimento revolucionário, não conquistaram bastantes
títulos de glória aos olhos da classe burguesa para lhe merecerem confiança.
Devem mostrar agora que não só estão dispostos a sabotar o movimento operário
revolucionário, mas também a combate-lo; isto é, devem assegurar à burguesia de
que sua tática e o seu programa de governo não são diversos da tática e do programa
dos trabalhistas ingleses e dos sociais-democratas alemães. Como os trabalhistas
ingleses, os reformistas italianos seriam, no momento próprio, bons monárquicos
e bons administradores dos banqueiros italianos, como os sociais-democratas
alemães (republicanos com grande pesar, confessou-o o presidente Ebert) saberiam,
em caso de necessidade, fazer funcionar as metralhadoras contra os comunistas,
seguindo nada mais nada menos o exemplo de Hamburgo².
* Trechos
do artigo “A Função do Reformismo em Itália”; L’Unitá, 05/02/1925.
¹ Movimento
de greves e ocupações de fábrica, o Biênio Vermelho de 1919-1920 na Itália, que
deslanchou com a ocupação da fábrica da Fiat em Turim. Em outubro de 1919, mais
de 50 mil trabalhadores já estão organizados em Conselhos, em cerca de trinta
fábricas. Mas isso provoca a reação não só dos empresários, mas também dos
sindicatos e da direção do PSI. A Federação dos Metalúrgicos acusa Gramsci e
seus camaradas de serem “sindicalistas revolucionários”, “anarco-sindicalistas”
e de sabotarem o papel e a ação dos sindicatos tradicionais.
² Gramsci refere-se a insurreição
comunista de setembro de 1923, reprimida duramente pelo governo
social-democrata alemão.
Edição:
Página 1917.
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