Notícias e análises sobre temas históricos e da atualidade, abordando história, economia, política e relações internacionais a partir da perspectiva marxista-leninista e da luta dos trabalhadores pelo socialismo.
quinta-feira, 26 de novembro de 2020
Giap, Memórias Centenárias da Resistência.
quarta-feira, 25 de novembro de 2020
Revolução, um Fantasma que não foi Esconjurado.*
Florestan Fernandes
Hobsbawm, em um livro inteligente e provocativo, procurou demonstrar que o drama da Europa consistia na conjunção (ou tradição) de intelectuais revolucionários e uma sociedade que repele a revolução. Durante a leitura senti o historiador, que vivera o pós-bolchevismo, lidando sutilmente com convicções íntimas e a justificação dos erros da União Soviética nas questões internas do partido, dentro de suas fronteiras, e na política internacional de concessões à "guerra fria".
Nós, no Brasil, nem isso poderíamos fazer.
Os nossos partidos de esquerda viram-se forçados a um oportunismo tortuoso,
compensado com momentos de exaltação teórica, e só uma vez chegaram à prática,
com a experiência da Aliança Nacional Libertadora (ANL), em 1935. Esse
"revolucionarismo subjetivo" começou a sofrer retificações,
exatamente na época em que ruiu a "guerra fria" e se proclamou o novo
credo burguês da "morte do socialismo". Os intelectuais, na maioria,
quando desligados da prática preferem salvar a pele, para não sacrificar a
consciência... houve um deslocamento nem sempre coerente e encoberto em direção
à social democracia, que não seria um mal em si. O mal procedeu na disposição
de ceder terreno sem luta e na instrumentalização da social democracia para a
condição de mão esquerda da burguesia. Esse processo continua e nos ameaça com
a perda das poucas alternativas partidárias de construção de uma sociedade
nova.
Gostaria de tratar do tema como sociólogo.
Na PUC, por exemplo, onde passei a lecionar no último trimestre de 1977,
deparei com uma oferta rica de cursos. Havia um que focalizava a organização
social. Em um ímpeto automático, perguntei por que não havia um curso que
tratasse não apenas da mudança social, mas especificamente da revolução social.
Aí estariam dados os dois polos: a ordem e a sua reprodução; a ordem e sua
transformação radical ou pelo avesso. Meus colegas do curso de pós-graduação,
que eram abertos à reflexão crítica, logo endossaram essa complementação
necessária.
De uma perspectiva macrossociológica, a
revolução é mais importante que a estabilidade social, vistas como assuntos
específicos. Os evolucionistas foram combatidos por causa da predominância de
abordagens mecanicistas e positivistas. Não existiria, porém, "evolução
social da humanidade" ignorando-se mudanças sociais abruptas, provenientes
de invasões, difusão cultural e mudanças sociais que adaptassem a ordem a
inovações que conduziam à reforma social e à revolução.
Se ultrapassássemos os raciocínios
circulares, a ordem social não ganharia muito com a obsessão comparativa.
Especialmente em sociedades estratificadas, nas quais a ordem social pode
conter contradições e tensões mais ou menos violentas em virtude de sua constituição.
É um mito postular que os dinamismos reprodutivos são mais importantes que os
transformadores. Nessas sociedades, a estabilidade procede do monopólio do
poder por uma categoria social, uma casta, um estamento ou uma classe. Como
explicaram Marx e Engels em A ideologia alemã, o monopólio do poder e a
estabilidade vinculam-se à supremacia ou à dominação predominante.
Isso não pressupõe, por si só, a existência
de tensões e de contradições que exijam algum tipo de mudança social. E a
revolução (como a reforma social, de outro ângulo) cria as motivações da
rebelião. A dominação de classe, que nos interessa aqui, tende a reforçar a
estabilidade e a prolongar a ordem social existente além da capacidade de
tolerância e submissão de outras classes ou dos sem-classes, que chegam a uma
visão negativa da ordem social e terminam por desejar explodi-la, eliminando a
ordem prevalecente e a dominação de classe.
segunda-feira, 23 de novembro de 2020
Vocação Subalterna
Ney Nunes
23/11/2020
"A experiência das alianças, dos acordos, dos blocos com o liberalismo social-reformista no Ocidente e com o reformismo liberal (democratas-constitucionalistas) na revolução russa, demonstrou, de maneira convincente, que esses acordos não fazem senão embotar a consciência das massas, não reforçando, mas debilitando o significado real da sua luta, unindo os lutadores aos elementos menos capazes de lutar, aos elementos mais vacilantes e traidores."¹
É pura perda de tempo esperarmos que indivíduos, partidos ou classes sociais, impregnados de uma vocação subalterna, expressem qualquer proposição que avance além da dependência e da colaboração com propostas e projetos das classes dominantes.
Esse é o caso da pequena burguesia, seja ela proprietária dos meios de produção ou assalariada (vulgarmente denominada classe média). Em todo o desenvolvimento histórico do capitalismo a pequena burguesia nunca pretendeu substituir a classe dominante. Nos períodos de calmaria da luta de classes, quando uma certa estabilidade econômica e política prevalece, a pequena burguesia apresenta-se geralmente atrelada aos partidos da grande burguesia. Já quando esse sistema entra em crise, a luta de classes e a polaridade política agudizam-se, é muito comum ocorrerem embates onde segmentos pequeno-burgueses ficam dilacerados entre a grande burguesia e o proletariado. Nos dois casos, estabilidade ou crise do sistema, não se verifica um projeto de poder independente da pequena burguesia com relação às duas classes fundamentais no capitalismo.
Os partidos vinculados à pequena burguesia, inclusive os chamados “de esquerda”, sejam eles socialistas ou comunistas, não podem fugir dessa “vocação subalterna” típica da classe predominante nos seus órgãos dirigentes, como na sua base social. Isso explica o contorcionismo político dos reformistas e revisionistas de todos os matizes. Mesmo quando usam e abusam de uma fraseologia radical, esses embusteiros vulgares não conseguem ocultar suas contradições porque, negam hoje o que pregavam ainda ontem. Se antes falavam em ruptura, revolução, etc., ao verem-se diante de uma rotineira disputa eleitoral, são sugados pela lógica do capital que tanto criticavam anteriormente. Correm como galinhas desesperadas em busca das migalhas, dando respaldo político aos que falam em “governar para todos”, “inclusão social”, “defesa da democracia” e outros enganos do mesmo tipo, quando, na prática, já aplicaram ou se colocam a disposição para gerir os planos de exploração capitalista.
O partido que tem projeto de poder, um
programa socialista, anti-imperialista e revolucionário, não pode, de forma
alguma, ficar refém de uma classe social com essa miserável “vocação
subalterna”. Para ser digno desse programa e do nome comunista é preciso estar
vinculado organicamente ao proletariado, a classe que está no polo oposto da
grande burguesia, portanto, aquela que reúne condições de abraçar esse programa
e desempenhar um papel dirigente na revolução.
¹ Lenin, em "Marxismo e Revisionismo".
Edição: Página 1917.
quinta-feira, 19 de novembro de 2020
Homens Brancos Sem Estudos
Quando a Esquerda Assume o Discurso Neoliberal
Francesc Xavier Ruiz Collantes*
No atual panorama político e
ideológico, encontramos o fato de que a direita tem duas posições extremistas.
Uma é a posição da direita nacional-nativista ou mesmo nacional-etnista, nesse
sentido temos casos como Trump, Bolsonaro, Le Pen, etc. Outra posição
extremista é a do neoliberalismo. O liberalismo mudou nas últimas décadas para
um liberalismo extremo que busca a extensão da lógica do mercado, controlada
pelas elites, em todas as esferas da vida política e social e a substituição da
sociedade e do Estado pelo mercado global.
Na ausência da esquerda no
palco do debate, a disputa política e ideológica está se estabelecendo entre as
duas posições extremas da direita. A esquerda dos países ocidentais e
desenvolvidos parece ter identificado o nacional-nativismo como seu principal
inimigo e, nessa situação, começou a assimilar o discurso do neoliberalismo em
alguns aspectos fundamentais. Se trata de um passo a mais no caminho do seu desaparecimento
como alternativa.
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Biden e Harris, o neoliberalismo ditando o discurso da esquerda pós-moderna. |
Temos visto como, diante da disputa entre o nacional-nativismo e o neoliberalismo nas últimas eleições presidenciais norte-americanas, a esquerda internacional optou pelos representantes do neoliberalismo, Biden e Harris. É bem possível que em alguns casos fosse para apoiar o "mal menor", mas nesta operação foi assumido o discurso próprio daquele que se considera "mal menor".
A atribuição de um discurso
político ou social a uma determinada ideologia baseia-se em algumas
características fundamentais desse discurso. Por exemplo: quais personagens,
individuais ou coletivos, aparecem; quais funções cada um desses personagens
desempenha; quais valores sustentam a estrutura do discurso, seu
desenvolvimento e suas conclusões, como esses valores são compreendidos, etc.
quarta-feira, 18 de novembro de 2020
Sobre os sujeitos emergentes:
A validade do caráter revolucionário da classe trabalhadora e de seu partido de vanguarda.
Diego Torres*
O
papel da classe trabalhadora
Desde
sua criação, o socialismo científico se distingue de outras teorias ao
identificar na sociedade existente uma força social destinada a destruir o
capitalismo e edificar uma nova sociedade. Essa força social é a classe
trabalhadora. Desde os primeiros trabalhos marxistas, desde os primeiros
manuscritos, como por exemplo, A Situação da Classe
Trabalhadora na Inglaterra, O Manifesto Comunista ou Os Princípios do Comunismo, “o principal elemento
da doutrina de Marx e Engels foi a clarificação do papel histórico do
proletariado como o criador da sociedade socialista” [1].
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Manifestação operária na França. |
Marx e Engels basearam suas proposições
em uma profunda análise da economia capitalista. Quais são as condições,
características e qualidades da classe trabalhadora para ser destinada a cumprir
esse papel?
Em primeiro lugar, é a classe mais
explorada na sociedade capitalista. Suas condições de vida são determinadas
pelo fato de que sua existência, prazeres e pesares, vida e morte, dependem
exclusivamente da venda de sua força de trabalho a um capitalista e das
condições desta venda, dadas por flutuações de mercado. Essas condições de
vida, esse interesse vital, os levam a lutar constantemente até a morte contra
a classe capitalista, e torna o proletariado o adversário mais consequente e
firme do sistema capitalista.
Isso não é puramente uma observação
empírica; é baseada na descoberta da teoria do mais-valor, que permanece
completamente válida. A presente crise capitalista de superprodução e
superacumulação vieram para destruir as últimas ilusões daqueles que pensam que
na economia a esfera da circulação poderia se desenvolver independentemente da
esfera da produção e das leis que a governam.
Em segundo lugar, a classe trabalhadora
está ligada ao desenvolvimento das forças produtivas. Enquanto trabalhadores,
não estão ligados ao passado da produção, com os remanescentes de antigos
sistemas de produção, mas sim com o desenvolvimento e o futuro da produção.
Isso significa, contra muitas
avaliações, que o desenvolvimento material do capitalismo, a grande indústria,
não ameaça a existência do proletariado enquanto uma classe, não destrói suas
posições na sociedade; na verdade, esse desenvolvimento impele o crescimento
numérico dos trabalhadores e aumenta seu papel na vida social.
É metodologicamente inconsistente tomar
um período curto de tempo para avaliar o desaparecimento do proletariado. A lei
da proletarização da população mostra seu impressionante alcance quando nós
analisamos o capitalismo como um todo. Por exemplo, em meados do século XIX nos
EUA, a classe trabalhadora, trabalhadores e suas famílias, constituíam menos de
6% da população. Na Alemanha, não passavam de 3%. Em meados do século XX, essa
cifra havia crescido para metade da população em ambos os casos. Hoje em dia,
de acordo com a OIT, em escala global, a classe dos trabalhadores que não
possuem meios de produção e que vendem sua força de trabalho em troca de um
salário tem oscilado em torno de 65% da população desde os anos 1980.
Isso significa que os interesses e
aspirações da classe trabalhadora coincidem com a orientação geral do
desenvolvimento das forças produtivas. O nível de desenvolvimento atingido
pelas forças produtivas requer a supressão da propriedade privada dos meios de
produção. Na verdade, isso é anunciado pela supressão relativa da propriedade
privada sobre meios concentrados e centralizados, mesmo sob o capitalismo, com
o crescimento das sociedades anônimas e monopólios [2]. Desprovida de toda a
propriedade privada sobre os meios de produção, a classe trabalhadora não pode
ter grande estima por ela. Na verdade, a propriedade privada dos meios de
produção é a base para a exploração do trabalhador pelo capitalista, motivo
pelo qual a sua supressão e substituição pela propriedade social é a única
forma que a classe trabalhadora tem para se emancipar.
O fato de que, apesar disso tudo, a
classe trabalhadora conta com qualidades, derivadas de sua posição na produção,
consideradas indispensáveis para o trabalho revolucionário, não escapou aos
mestres do socialismo científico.
Por
exemplo, nós já falamos sobre seu crescimento numérico constante, “o movimento
proletário” – disseram Marx e Engels no Manifesto Comunista –
“é o movimento independente da grande maioria pelo interesse da grande
maioria”.
Não se trata, no entanto, apenas do
aspecto quantitativo, mas também da agência da própria burguesia que ao
concentrar os meios de produção, junta milhares de trabalhadores sob os tetos
das fábricas, normalmente situadas em polos da concentração de capital, ou
seja, nas grandes cidades. Assim, o proletariado supera a dispersão e a
isolação. Conforme problemas de ordem subjetiva são superados e o nível de
consciência de classe aumenta, os trabalhadores podem se unir e se organizar
melhor do que qualquer outra classe.
Essa concentração da classe
trabalhadora é independente de certos processos temporais. Pode haver períodos
de tempo e países em que uma seção dos capitalistas opta por descentralizar ou
seccionar o processo produtivo. Essa opção obedece, geralmente às condições em
que é conveniente para capturar mais mais-valor ou dispersar temporariamente a
classe trabalhadora e dificultar sua organização, quando o sacrifício é
considerado necessário. De toda forma, essa opção é revertida após algum tempo,
e o processo geral mostra que a tendência do capital aponta para a
concentração. Isso é comprovado pelo crescimento ininterrupto dos monopólios,
pelo fato que uma grande porcentagem da classe trabalhadora trabalha
diretamente para eles e o seu reflexo no crescimento ininterrupto das concentrações
urbanas.
Além
disso, a classe trabalhadora é a classe mais capaz, por meio de suas próprias
condições, de se organizar. O trabalho nas grandes empresas acostuma o
trabalhador ao espírito do coletivismo, de disciplina severa, a ações conjuntas
e à solidariedade. Por exemplo, Engels fala sobre sua rigorosa disciplina,
adjetivada como militar, em A Situação da Classe
Trabalhadora na Inglaterra, e Lenin sublinha em seus Cadernos sobre o Imperialismo como o capitalista
acostuma a classe trabalhadora a uma extraordinária precisão em cada movimento.
E tudo isso antes da vigilância e controle que as novas tecnologias de
informação e telecomunicações permitiram!
De todas as classes oprimidas, a classe
trabalhadora é a mais capaz de desenvolver sua consciência e aceitar uma
ideologia científica. O avanço da indústria demandou mais e mais trabalhadores
educados. A manipulação de máquinas complexas e valiosas que sustentam a
produção hoje demanda um alto grau de preparação científica e um nível cultural
muito maior do que formações econômicas precedentes.
Essa é a soma de todas as condições
históricas e econômicas que tornam a classe trabalhadora a classe mais
militante e revolucionária da sociedade. Essas condições históricas e
econômicas mantém sua força nos dias de hoje.
terça-feira, 17 de novembro de 2020
Sobre a "Declaração de La Paz" e a Poeira Socialdemocrata nos Olhos do Povo.
Há poucos dias, por ocasião da posse do novo
presidente da Bolívia, Luis Arce, foi divulgada a chamada "Declaração de
La Paz", um texto assinado por "personalidades de esquerda" e
"lideranças progressistas" de 11 países. Entre as assinaturas está a
de Alexis Tsipras, presidente do socialdemocrata SYRIZA, cujo governo administrou
o capitalismo na Grécia durante o período 2015-2019. A bárbara política
antipopular contra o povo grego, o desmantelamento dos direitos populares dos
trabalhadores, a repressão das lutas populares, a defraudação de expectativas
que o SYRIZA fomentou nas camadas populares, levaram o partido de direita, o
ND, para o governo. O governo de "direita" encontrou uma
"estrada pavimentada" pelo governo de "esquerda" de SYRIZA,
tanto para a continuação da política antipopular nos assuntos internos, como na
política externa. O SYRIZA esteve encarregado de desenvolver relações estreitas
com o governo de Donald Trump, através de um "acordo estratégico com os
EUA", elaborado pelo seu governo e ratificado pelo ND, que prevê a
multiplicação e expansão das bases militares da US-NATO na Grécia, etc.
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Posse de Arce na Bolívia: a socialdemocracia gerindo a crise capitalista. |
Claro, entre os signatários também estão
outros representantes da velha e da nova socialdemocracia, que foram testados
na gestão do capitalismo contra os povos, como José Luis Zapatero
(socialdemocrata, ex-primeiro ministro da Espanha), Dilma Russef
(socialdemocrata, ex-Presidente do Brasil), Rafael Correa (ex-presidente do
Equador e um dos representantes do chamado “Socialismo do século XXI), Pablo
Iglesias (do“ Podemos ”, hoje ministro na Espanha), além de oportunistas politicamente
falidos como Jean-Luc Mélenchon (de "França Insubordinada").
O próprio texto nada mais é do que um
manifesto de absolvição do sistema capitalista. Distorce o caráter da crise
capitalista, afirmando que sua causa é a Covid-19, culpa exclusivamente a
versão neoliberal de sua gestão pelo fracasso absoluto de todos os governos
burgueses em enfrentar a pandemia, exalta a democracia burguesa e condena o
extrema direita, entre outras coisas, celebrando indiretamente a eleição de
Biden nos Estados Unidos ...
O exposto, embora não tenha sido uma
surpresa, é pelo menos uma provocação, quando por exemplo vemos a assinatura do
presidente do SYRIZA, cujo governo degradou ainda mais o sistema de saúde
pública na Grécia, não abriu nenhum dos hospitais que fecharam em 2013, reduziu
ainda mais o orçamento do estado para a Saúde, reduziu o número de médicos,
enfermeiros e leitos de UTI. Alexis Tsipras, que comemora a derrota de Trump, a
quem qualificou de "diabolicamente bom", participando de todos os
planos dos EUA-OTAN em nossa região. Com a assinatura deTsipras veio o Acordo
de Prespa para a expansão da OTAN criminosa nos Balcãs. Durante o governo do
SYRIZA, a polícia reprimiu a manifestação da PAME e o movimento popular que
protestava contra o tratado grego-americano. O SYRIZA, que na "Declaração
de PAZ" supostamente se preocupa com a extrema direita, governou por 5
anos junto com o partido de extrema direita, ANEL. E estes são apenas alguns
exemplos indicativos de uma lista muito longa ...
Este tipo de declarações pretendem mais uma
vez lançar poeira nos olhos dos povos, pelo papel e responsabilidades de todos
os tipos de administradores de "esquerda" da barbárie capitalista.
Por mais que as forças da socialdemocracia, como o SYRIZA, tentem voltar a se
apresentar como forças "pró-povo" e "progressistas", há
muitas provas e muita experiência. Eles foram registrados para sempre pelo povo
grego e outros povos como forças antipopulares que serviram plenamente aos
interesses do capital, dos monopólios e dos imperialistas.
Publicado no jornal “Rizospastis” do KKE (Partido Comunista da Grécia), em 14/11/2020.
Edição: Página 1917.
quarta-feira, 11 de novembro de 2020
Os 103 Anos da Revolução Socialista de Outubro
Comemoramos 103 anos da Grande Revolução Socialista de
Outubro; a 7 de novembro de 1917 (25 de outubro no velho calendário), o triunfo
da classe trabalhadora mundial sobre a burguesia e o capitalismo, o
acontecimento histórico que marcou o caminho para a emancipação dos explorados
e a construção do novo mundo, socialismo-comunismo. O Partido Comunista do
México celebra esta data com reflexão e estudo, mas acima de tudo, com lutas,
ações militantes e práticas cotidianas que materializam o objetivo histórico da
Revolução Socialista. Por isso, o PCM aponta algumas de suas posições a
respeito da vasta experiência teórica e prática que a Grande Revolução
Socialista de Outubro legou aos revolucionários e à classe trabalhadora de todo
o mundo.
Época do imperialismo e das revoluções proletárias
A Grande Revolução Socialista de Outubro confirmou que vivemos a época do imperialismo, a última fase do capitalismo que traz consigo as contradições objetivas e materiais necessárias a uma época de revoluções socialistas. Vladimir Ilyich Lenin, o grande líder bolchevique, que continuou a obra do comunismo científico de K. Marx e F. Engels, comprovou na prática histórica que o capitalismo é regido por leis internas de desenvolvimento que, ao atingir seu limite de concentração de capital torna-se decadente, o limiar da Revolução Proletária. O livre mercado ou livre competição não é mais a característica essencial do capitalismo, mas monopólio; a fusão do capital bancário com o capital industrial dá origem ao capital financeiro, à oligarquia financeira, parasitário e especulativo que submete todas as instituições políticas e jurídicas ao seu poder econômico; a predominância da exportação de capital sobre a exportação de mercadorias, o acúmulo de capital em poucas mãos gera a incursão do capital em todos os ramos de produção dos países atrasados para subjugá-los. Assim, os grandes monopólios dividem o mundo, seus recursos naturais e matérias-primas até formarem blocos imperialistas; a guerra constante como resultado da divisão do mundo na luta sem fim para subir na hierarquia da cadeia de dominação imperialista. As relações de propriedade privada sobre os meios de produção, acumulação e centralização, o domínio do capital sobre o trabalho, tornam-se um freio ao progresso social. A Revolução Socialista de Outubro foi, entre outros fatores, o resultado de uma primeira guerra imperialista mundial pela divisão do mundo, transformada em uma guerra civil de classes sociais. Lenin confirmou com o triunfo da Revolução Socialista de outubro de 1917 que a luta é nacional na forma, mas internacional no conteúdo, que a fase imperialista do capitalismo é o prelúdio das revoluções socialistas.
O Partido de novo tipo
A Grande Revolução Socialista de Outubro demonstrou que as revoluções não surgem espontaneamente, mas são organizadas, como afirmou Lenin. Não basta apontar as condições materiais objetivas, os limites históricos do capitalismo e esperar que ele caia. O fator subjetivo, a consciência de fora do movimento operário, o papel da organização revolucionária, a vanguarda política fundida com as ideias avançadas do marxismo-leninismo é um elemento histórico essencial para o triunfo da Revolução Socialista. O partido de um novo tipo, a organização das organizações, exemplificada pelo partido bolchevique, mostra que somente através de uma única disciplina, com unidade programática e ideológica nos princípios do marxismo-leninismo, a revolução é possível. A necessidade de quadros políticos profissionais a tempo inteiro, cuja única tarefa é fazer a revolução, são elementos essenciais para avançar rumo ao objetivo histórico. O caráter conspiratório da organização, como premissa necessária para enfrentar a máquina repressiva do Estado burguês. O cérebro coletivo, o Estado-Maior do proletariado como classe que dialeticamente combina o sentido democrático e centralizado de acordo com a realidade concreta, são apenas algumas das conclusões deixadas pela Grande Revolução Socialista de Outubro.
A classe operária como sujeito revolucionário
A classe trabalhadora é e continua a ser a classe social mais revolucionária quando toma consciência de seu papel histórico. Única classe social que gera valor com a exploração de seu trabalho, aquela que por sua condição de produção social é a geradora de capital, a única que corporifica todas as contradições históricas das classes exploradas e oprimidas da sociedade moderna. Os escravos assalariados, excluídos da participação política da democracia representativa burguesa, na verdade, ao formar sindicatos, organizações e seu partido político, eles se tornam o embrião do novo estado proletário. O poder operário nasce, se exerce e se expande a partir dos centros de produção, como demonstra o surgimento dos Soviets, formas superiores de organização da democracia operária. O fato histórico de que os trabalhadores conscientes não só têm o poder de produzir, mas de destruir a velha máquina burocrática e parasitária burguesa por uma nova, de natureza executiva e decisiva. A ditadura do proletariado como premissa essencial para a eliminação das classes sociais, a construção do socialismo-comunismo; ditadura para a burguesia, democracia para os trabalhadores.
A arte da insurreição
A Revolução
Socialista como culminação de um processo histórico de combinação de todas as
formas de luta da classe trabalhadora em determinados momentos. A insurreição
de outubro de 1917 na Rússia mostrou que é a forma mais elevada de luta de
classes, que surge da união embrionária e lutas econômicas, por melhores
salários; para ser transformada em ações políticas da classe trabalhadora como
um todo em formas pacíficas, parlamentares, extraparlamentares, massivas,
militares e violentas. A violência revolucionária como fator indispensável das
classes exploradas para conseguir sua emancipação. As mudanças profundas das
sociedades e seus modos de produção não são alcançadas com reformas políticas,
etapas ou métodos pacíficos; o caráter de dominação de uma classe sobre outra é
violento, um fato objetivo. A insurreição e a violência organizada, contrária
aos métodos caudilhistas e de indivíduos isolados; por ações violentas
organizadas com ampla participação da classe trabalhadora como um todo,
maturidade e consciência de que a revolução, como dizia F. Engels, é “a coisa
autoritária que existe; o ato pelo qual uma parte da sociedade impõe sua
vontade à outra por meio de fuzis, baionetas e canhões ”. Tese comprovada na
Revolução de Outubro e na história da humanidade e da luta de classes. O ato
pelo qual uma parte da sociedade impõe sua vontade à outra por meio de fuzis,
baionetas e canhões ”. Tese comprovada na Revolução de Outubro e na história da
humanidade e da luta de classes.
Socialismo-comunismo como alternativa
A Grande Revolução
Socialista de Outubro demonstrou que uma sociedade diferente do capitalismo é
possível, o socialismo-comunismo. Que das entranhas do velho e arcaico modo de
produção capitalista, o novo emerge; um modo de sociedade baseado na
propriedade coletiva dos meios de produção, com relações sociais livres da
exploração do homem pelo homem, livres da anarquia do mercado, pelo
planejamento econômico com certeza de subsistência, livre de ignorâncias
metafísicas e para o equilíbrio científico entre o homem e a natureza. O
socialismo, estado superior de progresso humano iniciado com a Revolução de
Outubro de 1917, mostrou que é possível resolver os grandes problemas da
humanidade como a alimentação, a habitação, a saúde, a educação, o desemprego,
as guerras, o desenvolvimento da a ciência, tecnologia, espaço exterior, arte e
cultura. Problemas que em séculos e até hoje, no capitalismo não puderam ser
resolvidos, devido à sua essência contraditória a favor do lucro e da criação
de capital acima de tudo. A Revolução Socialista de Outubro é um piscar de
olhos na linha do tempo da história humana. Uma experiência histórica
revolucionária e abundante, necessária e vigente apesar do revés que representou
a contrarrevolução no bloco socialista. Uma experiência que deve ser estudada
desde suas bases materiais e objetivas, longe de falácias subjetivas e
preconceituosas, baseadas em crenças moralizantes de elaboradas versões de
canetas anticomunistas e contrarrevolucionárias.
No marco do 103º aniversário da Revolução Socialista de Outubro, o PCM convida os elementos mais conscientes da classe trabalhadora a se juntarem às fileiras do partido, a lutar de forma decidida, permanente e com uma estratégia de poder bem definida pelo poder operário, pelo socialismo-comunismo. Hoje, mais do que nunca, quando a confusão ideológica prevalece e o capitalismo busca sempre e sempre recompor sua crise endêmica através da demagogia, por meio de gestões socialdemocratas afinadas com o poder dos monopólios. Hoje, mais do que nunca, é uma necessidade histórica estudar o Marxismo-Leninismo e a Revolução Socialista de Outubro, fortalecer as fileiras do Partido Comunista, organizar, preparar e lutar, até alcançar as vitórias das revoluções proletárias do século XXI.
No meio da pandemia Covid-19, quando o capital mostra mais uma vez que é incompatível com a existência da raça humana, a Grande Revolução Socialista de Outubro indica a direção, o Norte, pelo qual o proletariado deverá avançar para cumprir sua tarefa histórica.
Proletários de todos os países, uni-vos!
O Comitê Central do Partido Comunista do México
Edição: Página 1917.
Marxismo e Reformismo*
Há 107 anos Lenin apontava nesse artigo o quanto é nefasta a influência do reformismo sobre a classe trabalhadora e sua ajuda na extensão da dominação burguesa. Mas, ainda hoje, depois de um século da mais completa integração das correntes reformistas ao capitalismo, vemos ardilosos politiqueiros, autointitulados procuradores de Lenin na Terra, pregando e praticando a mais abjeta subordinação à velha socialdemocracia e suas versões pósmodernas.
Lenin
12 Setembro de 1913
Os marxistas, diferentemente dos anarquistas, reconhecem a luta por reformas, isto é, por melhorias na situação dos trabalhadores que deixam como antes o poder nas mãos da classe dominante. Mas, ao mesmo tempo, os marxistas travam a luta mais enérgica contra os reformistas, que direta ou indiretamente limitam as aspirações e a atividade da classe operária às reformas. O reformismo é um logro burguês dos operários, que permanecerão sempre escravos assalariados, apesar de determinadas melhorias, enquanto existir a dominação do capital.
A burguesia liberal, dando reformas com uma das mãos, retira-as sempre com a outra, redu-las a nada, utiliza-as para subjugar os operários, para os dividir em diversos grupos, para perpetuar a escravidão assalariada dos trabalhadores. Por isso o reformismo, mesmo quando é inteiramente sincero, transforma-se de fato num instrumento de corrupção burguesa e enfraquecimento dos operários.¹ A experiência de todos os países mostra que, confiando nos reformistas, os operários foram sempre enganados.
Pelo contrário, se os operários assimilaram a doutrina de Marx, isto é, tomaram consciência da inevitabilidade da escravidão assalariada enquanto se conservar a dominação do capital, então não se deixarão enganar por nenhumas reformas burguesas. Compreendendo que, conservando-se o capitalismo, as reformas não podem ser nem sólidas nem sérias, os operários lutam por melhorias e utilizam as melhorias para continuarem uma luta mais tenaz contra a escravidão assalariada. Os reformistas procuram dividir e enganar os operários com esmolas, afastá-los da sua luta de classe. Os operários, conscientes da falsidade do reformismo, utilizam as reformas para desenvolver e alargar a sua luta de classe.
Quanto mais forte é a
influência dos reformistas sobre os operários tanto mais fracos são os
operários, tanto mais dependentes da burguesia, tanto mais fácil é para a burguesia
reduzir as reformas a nada por meio de diversos subterfúgios. Quanto mais
independente e profundo, quanto mais amplo pelos seus objetivos for o movimento
operário, quanto mais livre ele for da estreiteza do reformismo, tanto melhor
os operários conseguirão consolidar e utilizar as melhorias isoladas.
*Trecho do artigo "Marxismo e Reformismo"
Edição: Página 1917.
domingo, 8 de novembro de 2020
sábado, 7 de novembro de 2020
Revolução de Outubro: Patrimônio dos Trabalhadores do Mundo!*
O Sete de Novembro é um
marco histórico na luta dos trabalhadores contra a exploração capitalista. A
revolução socialista triunfou há 103 anos na Rússia derrotando liberais, reacionários e reformistas, eternos serviçais da burguesia. Abaixo reproduzimos o comunicado
de Lenin, já como Presidente do Conselho dos Comissários do Povo, conclamando operários, soldados e camponeses a redobrar a mobilização e o enfrentamento aos burgueses e
seus lacaios: “Prendei e entregai ao
tribunal revolucionário do povo todos os que ousem prejudicar a causa popular,
quer esse prejuízo se manifeste na sabotagem (deterioração, travamento,
subversão) da produção”.
Camaradas operários,
soldados, camponeses, todos os trabalhadores!
Lenin
A revolução operária e camponesa venceu definitivamente em Petrogrado, dispersando e prendendo os últimos restos do reduzido número de cossacos enganados por Kérenski. A revolução venceu também em Moscou. Antes de ali terem chegado alguns comboios com forças militares vindos de Petrogrado, em Moscou os cadetes e outros kornilovistas assinaram as condições de paz, o desarmamento dos cadetes e a dissolução do Comitê de Salvação.
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Petrogrado 1917, a revolução derrotou reformistas e reacionários. |
Da frente e das aldeias chegam todos os dias e a todas as horas notícias de que a maioria esmagadora dos soldados nas trincheiras e dos camponeses nos uezd apoia o novo governo e as suas leis sobre a proposta da paz e a entrega imediata da terra aos camponeses. A vitória da revolução dos operários e dos camponeses está assegurada, pois a maioria do povo já se ergueu a seu favor.
É completamente compreensível que os latifundiários e os capitalistas, os altos empregados e funcionários, estreitamente ligados à burguesia, numa palavra, todos os ricos e todos os que estão com os ricos, acolham hostilmente a nova revolução, se oponham à sua vitória, ameacem paralisar a atividade dos bancos, sabotem ou paralisem o trabalho de diferentes instituições, o obstaculizem por todos os meios, o entravem direta ou indiretamente. Todo o operário consciente compreendeu perfeitamente que encontraríamos inevitavelmente tal resistência, toda a imprensa partidária dos bolcheviques o assinalou muitas vezes. As classes trabalhadoras não se assustarão um só instante com essa resistência, nem cederão minimamente perante as ameaças e as greves dos partidários da burguesia.
A maioria do povo está por nós. A maioria dos trabalhadores e dos oprimidos de todo o mundo está por nós. A nossa causa é a causa da justiça. A nossa vitória está assegurada.
A resistência dos capitalistas e dos altos empregados será quebrada. Nenhuma pessoa será privada por nós dos seus bens sem uma lei especial do Estado sobre a nacionalização dos bancos e dos consórcios. Esta lei está a ser preparada. Nenhum trabalhador perderá um só copeque; pelo contrário, ser-lhe-á prestada ajuda. O governo não quer introduzir quaisquer outras medidas que não sejam o mais rigoroso registo e controle, que não seja a cobrança sem ocultação dos impostos anteriormente estabelecidos.
Em nome destas justas reivindicações, a imensa maioria do povo uniu-se em torno do governo provisório operário e camponês.
Camaradas trabalhadores! Lembrai-vos que vós próprios dirigis agora o Estado. Ninguém vos ajudará se vós próprios não vos unirdes e não tomardes nas vossas mãos todos os assuntos do Estado. Os vossos Sovietes são a partir de agora órgãos do poder de Estado, órgãos plenipotenciários e decisivos.
Uni-vos em torno dos vossos Sovietes. Reforçai-os. Lançai mãos à obra na base, sem esperar por ninguém. Estabelecei a mais rigorosa ordem revolucionária, esmagai implacavelmente tentativas de anarquia por parte de bêbados, arruaceiros, cadetes, contra-revolucionários, kornilovistas e outros semelhantes.
Introduzi o mais rigoroso controlo da produção e do registo dos produtos. Prendei e entregai ao tribunal revolucionário do povo todos os que ousem prejudicar a causa popular, quer esse prejuízo se manifeste na sabotagem (deterioração, travamento, subversão) da produção ou na ocultação de reservas de cereais e de víveres, quer na retenção de carregamentos de cereais ou na desorganização dos caminhos-de-ferro, dos correios, telégrafos e telefones ou em geral em qualquer resistência à grande causa da paz, à causa da entrega da terra aos camponeses, à causa da aplicação do controlo operário sobre a produção e a distribuição dos produtos.
Camaradas operários,
soldados, camponeses e todos os trabalhadores! Ponde todo o poder nas mãos dos
vossos Sovietes. Guardai, protegei como as meninas dos olhos, a terra, os
cereais, as fábricas, os instrumentos, os produtos, os transportes — tudo isto
será desde agora inteiramente vosso, patrimônio de todo o povo. Gradualmente,
com o acordo e a aprovação da maioria dos camponeses, na base da experiência
prática deles e dos operários, marcharemos firme e tenazmente para a vitória do
socialismo, que os operários avançados dos países mais civilizados consolidarão
e que dará aos povos uma paz duradoura e os libertará de todo o jugo e de toda
a exploração.
O Presidente do Conselho
de Comissários do Povo
Edição: Página 1917.
*A Revolução bolchevique
de Outubro (26 de Outubro, de acordo com o calendário juliano) teve início em 7
de Novembro de 1917 (no atual calendário gregoriano).
terça-feira, 3 de novembro de 2020
"Acompanhando as Massas Peronistas" (Ao abismo)
Leandro Gamarra
Ao presidente Alberto Fernández já não pedimos que exproprie
Vicentín¹ ou institua o imposto sobre a fortuna por decreto.
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Repressão para expulsar famílias sem teto em Guernica. |
O que pedimos a você neste momento do jogo é que pelo menos controle o preço de um quilo de limões, ou de uma dúzia de ovos, cada vez mais fora do alcance do bolso do trabalhador.
Não é uma piada. Porque se analisarmos em profundidade neste contexto de pandemia global causada por um vírus, é um verdadeiro absurdo que um assalariado não possa garantir algo tão básico quanto a possibilidade de incorporar uma boa dose de vitamina C e de proteínas em seu metabolismo e no de seus filhos através dos alimentos que ele produz. Principalmente em um país onde o solo produziu, só em 2019, 134 milhões de toneladas de cereais e oleaginosas a um valor de mercado, incluindo subprodutos de 33.962 milhões de dólares. As dores são nossas, as commodities dos outros ...
Mas caramba, o que vamos pedir a um governo que, sem a menor
vocação para deter as mãos do grande capital, deixou o destino de milhões de
trabalhadores, em sua maioria precários e sem cobertura de saúde, forçados aos
caprichos do deus do mercado, enfrentarem diariamente a possibilidade de
contágio em troca de um salário que não dá para nada, ou de um miserável bico.
Porque não é mais o vírus. Digamos de uma vez por todas,
Alberto Fernández não consegue mais parar nem um táxi.
Não somos astrólogos nem iluminados, bastava raciocinar com
instinto e consciência de classe para anteciparmos há pouco mais de um ano,
quando avisamos aos nossos e aos demais que este seria um governo de ajuste e
repressão. Não é preciso ser um gênio para saber como pode se desenvolver o
bloco bonapartista do esquema republicano burguês, neste caso representado pela
ménage troi Alberto-Cristina-Massa, quando quem o precede na administração do
Estado não deixa nem um tostão para fazer política, ou para criar a ilusão
populista de uma suposta redistribuição de riqueza. Não senhores. Quando não há
mais soja a 600 dólares a tonelada, ou quando o capitalismo global ainda tenta
se recuperar da crise de 2008 (mais a crise que está por vir), o populismo,
como sempre aconteceu na história, tira a máscara, mostra os dentes de classe e
sua pouca propensão a reduzir a renda dos mais ricos.
Nesse panorama de devastação, no dia 29 de outubro, ocorreram
dois fatos, um notório, o outro nem tanto, que definem de forma categórica a
política antipopular dessa continuidade Macrista denominada “Frente de todos”.
Por trás dos fatos sinistros da triste manhã de Guernica,
onde as forças repressivas a mando da patética dupla Kicillof-Berni espancaram
e, inclusive balearam mulheres, crianças e homens desarmados (fato que foi
festejado pelo próprio Eduardo Feinmann no seu programa de rádio), foi
divulgada na área financeira a notícia de que os títulos da dívida argentina já
estão sendo negociados como antes da última troca. Traduzido para quem
acertadamente sente que os movimentos das finanças são um hieróglifo: após o
anúncio com grande alarde da última troca com redução de juros, em pouco menos
de 4 meses a Argentina se vê novamente diante da possibilidade de um calote,
isto é, às portas de uma nova troca de títulos de dívida. Sem contar as duras
medidas que estão negociando nas sombras com a “muito sensível diretora do FMI, porque viveu quando criança a pobreza
de um país comunista” – segundo as palavras do atual presidente.
Até o economista burguês Julián Yosovitch explica: “Quando o título é avaliado em sua paridade,
o que começamos a fazer é determinar quanto valerá o novo título a ser entregue
em troca como resultado do processo de reestruturação, ou o que este bônus
permitirá que você recupere após a reestruturação. Ou seja, se trada de um
valor de recuperação no qual o mercado especula quanto valerá cada um desses
títulos quando não sirvam para outra coisa, mas para serem trocados pelos novos
títulos que serão entregues em reestruturação da dívida ".
É que além das proclamações e slogans nac & pop, quem
sabe melhor do que ninguém que a dívida argentina é impagável são os mesmos
usurários. E para isso contam com governos como este, ou o de Macri, que
arbitram o tempo todo a favor dos seus interesses, seja emitindo e endividando internamente
o Estados, seja pedindo socorro aos organismos financeiros internacionais quando
já não houver mais um único peso para financiar a administração do Estado
burguês. Sempre desenhando esquemas de reestruturação permanente que nada mais
fazem do que aperfeiçoar o sistema de Dívida Perpétua instalado por sangue,
fogo, tortura e desaparecimentos pela ditadura há quase 45 anos. Essa é a
verdade. Todo o resto é papelão pintado. Ou colocado de uma forma mais
marxista, essa é a realidade efetiva que se oculta por trás das aparências e as
supostas “boas intenções” do bonapartismo.
Continuar sustentando o contrário, tratando de disfarçar o
que aos olhos de todo o planeta é uma nova demonstração das limitações do
sistema político do capitalismo para resolver os problemas fundamentais dos
trabalhadores, é seguir ajoelhando a militância diante do fato irreversível de
um fracasso histórico sem precedentes. Fique claro, os dirigentes que
conduziram o PC a formar parte de um governo que ajusta, reprime e assassina,
são e serão os únicos responsáveis.
Notas do editor:
¹ Conglomerado agropecuário argentino que possui cerca de 25 empresas, principal cerealífera do país, está em processo de quebra e sob investigação judicial por fraude em empréstimos e fuga de capitais.
Edição e tradução: Página 1917.
Fonte: https://revistacentenario.com/acompanando-a-las-masas-peronistas-al-abismo/