– Proposição da “supply-side economics”: “Os ricos trabalham melhor se lhes pagarem mais, enquanto os pobres trabalham melhor se lhes pagarem menos”.
Prabhat Patnaik [*]
Sob o capitalismo tardio, há um ataque ao povo trabalhador que faz lembrar o capitalismo inicial e este ataque é mundial, não só no terceiro mundo como também nos países capitalistas avançados. O ataque ocorre em três níveis: econômico, político e ideológico.
O assalto a nível econômico tem sido muito falado e é o resultado tanto do aumento da inflação como do grande aumento do desemprego que atualmente afligem o mundo capitalista. A inflação mais elevada foi iniciada por um aumento espontâneo das margens de lucro administrado pelo grande capital, em particular nos Estados Unidos, que depois se espalhou por todo o mundo capitalista (o mecanismo desta propagação não será discutido aqui, mas num artigo posterior); e o aumento do desemprego é o resultado conjunto tanto da crise capitalista mundial como das tentativas oficiais de conter a inflação em todo o lado à custa da classe trabalhadora, reduzindo deliberadamente o emprego. A esperança oficial é que a força negocial dos trabalhadores seja suficientemente reduzida pelo aumento do desemprego, de modo a que não possam negociar salários monetários mais elevados para compensar a subida dos preços, o que acabaria por fazer com que a inflação se atenuasse.
O capitalismo nos primeiros anos da Revolução Industrial na Grã-Bretanha, já salientado por historiadores como Eric Hobsbawm, caracterizou-se por um aumento da pobreza; do mesmo modo, o capitalismo tardio também está a assistir hoje a um aumento do nível de privação absoluta para os trabalhadores. Joseph Stiglitz argumentou que o salário médio real de um trabalhador americano do sexo masculino em 2011 era ligeiramente inferior ao de 1968; com a atual inflação, os salários reais de hoje seriam ainda mais baixos do que em 2011 e, portanto, também em comparação com 1968. Se acrescentarmos a isto o maior desemprego atual nos EUA em comparação com 1968 (a taxa de desemprego oficial camufla este fato, uma vez que não tem em conta a redução da taxa de participação dos trabalhadores devido ao “efeito do trabalhador desencorajado” que funciona num período de desemprego elevado), não restam muitas dúvidas quanto ao aumento do empobrecimento entre os trabalhadores americanos. O mesmo se pode dizer dos trabalhadores de outros países capitalistas avançados. Em países como a Índia e o resto do Terceiro Mundo, há provas claras de um declínio do nível nutricional da população, medido pelo declínio da absorção per capita de cereais alimentares (considerando a soma dos cereais diretamente consumidos, utilizados como alimento para produtos animais e transformados em produtos alimentares) no período desde a década de 1980. Daqui se pode inferir um aumento inequívoco do nível absoluto de pobreza entre os trabalhadores. Por conseguinte, não se pode duvidar do ataque econômico aos trabalhadores do mundo capitalista, sobretudo aos trabalhadores pobres.