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terça-feira, 27 de agosto de 2024

Chico de Oliveira, uberização e informalidade digital

A jornada de trabalho — e os direitos inerentes a ela — tornou-se um obstáculo para a acumulação do capital, de modo que tende a ser paulatinamente desconstruída.

Matheus Silveira de Souza* - 11/07/2024

Se a configuração atual do mundo do trabalho não foi constituída a partir de grandes rupturas, mas é fruto de mudanças moleculares, que foram ocupando progressivamente os poros do universo laboral, alguns mestres do pensamento social brasileiro identificaram certas tendências quando elas ainda eram embrionárias e pouco perceptíveis, como é o caso de Francisco de Oliveira.


No clássico texto O Ornitorrinco, Chico de Oliveira identifica uma tendência progressiva de desaparecimento da jornada de trabalho, pois essa seria um obstáculo para o aumento da produtividade do capital. Segundo Chico, o aumento da produtividade depende da diminuição entre o tempo de trabalho total e o tempo de trabalho de produção. Isso porque, o capital tem uma luta constante para tentar diminuir a distância entre o tempo de trabalho e o tempo de não trabalho. Em termos didáticos, imaginem um trabalhador de escritório, assalariado, que dispõe de uma jornada diária de 8 horas. É óbvio que o indivíduo não produzirá durante as suas 8 horas de trabalho, pois será remunerado em momentos de não trabalho durante a jornada (idas ao banheiro, uso do celular, períodos ociosos e sem demanda, etc.).

domingo, 25 de agosto de 2024

Eleições e gestão da barbárie

Ney Nunes

25/08/2024

"Para manter sua hegemonia a burguesia necessita cada vez mais combinar contenção e repressão sobre uma sociedade mergulhada na violência cotidiana, onde milhões de pessoas são postas à margem do sistema, sobrevivendo na dependência de migalhas do Estado e de organizações filantrópicas."




Um frenesi toma conta da mídia e das redes sociais, novamente eleições e, desta vez, a sangrenta disputa é pelos cargos municipais. Nas regiões metropolitanas das grandes cidades "sangrenta" não é figura de linguagem, os atentados a bala contra candidatos são rotineiros. Rotineiras e repetitivas também são as velhas promessas, turbinadas por novas lorotas marqueteiras. Esse é o caldo de cultura de um sistema decadente  que segue acelerado em direção à barbárie e necessita continuamente domesticar as massas para a burguesia continuar sugando delas seus fabulosos lucros.

Não faltam receitas, velhas ou novas, visando melhorar "transportes", "habitação, "saúde", "educação" e etc., como se a mudança efetiva nas condições de vida das massas populares dependesse apenas da tal "vontade política" dos governantes. Como se tudo na sociedade burguesa não fosse regido pela dominação de classe, pelo objetivo de manter essa dominação e extrair a maior rentabilidade de todas as atividades possíveis. Por essa razão, o bem comum da coletividade é sempre deixado em último plano.

Para manter sua hegemonia a burguesia necessita cada vez mais combinar contenção e repressão sobre uma sociedade mergulhada na violência cotidiana, onde milhões de pessoas são postas a margem do sistema, sobrevivendo na dependência de migalhas do Estado e de organizações filantrópicas. Cresce assim o peso do lumpesinato na população. O volume da crise social transborda e os presídios, vistos também como fonte de lucros através da terceirização e privatização, estão superlotados. O judiciário, ciente disso, aplica tornozeleiras eletrônicas como paliativo. A repressão nas favelas e periferias também foi terceirizada, tropas regulares do Estado policial burguês agora dividem espaço com narcomilícias que controlam negócios e territórios.

É nesse tecido social apodrecido que viceja a extrema-direita, aqui entre nós conhecida como bolsonarismo. Um movimento político burguês, amálgama de bandidos, oportunistas e fascistas que tiram vantagem do desespero da população acuada entre a violência policial e o banditismo. Essa camarilha também tem suas "receitas". Exploram a podridão da democracia burguesa em proveito próprio, passando a falsa imagem de patriotas e contestadores do sistema, quando, na verdade, não passam de marionetes de algumas facções das classes dominantes, entreguistas e vassalos do imperialismo.

Da mesma forma, não faltam também os reformadores do sistema. Aqueles oportunistas que almejam se eleger jogando ilusões nos olhos das massas e legitimam com sua ação a democracia burguesa. Trazem a receita reciclada do desenvolvimentismo, da cidadania e dos gastos sociais, ou seja, querem dourar a pílula do capitalismo. Bastaria para tanto uma gestão mais humana dos negócios do Estado burguês. Apontam como vilão da vez o "Teto de Gastos" que estaria na raiz de todos os males. Rompendo esse teto, haveria recursos para investir no "social". Esquecem de dizer que, com teto ou sem teto, o orçamento público é insuficiente porque na atual etapa do capitalismo a maior parte dos recursos públicos é drenada em proveito direto ou indireto dos interesses empresariais. O que advogam, na verdade, é melhor distribuição das migalhas. São candidatos a meros gestores da barbárie capitalista.


Edição: Página 1917  



terça-feira, 20 de agosto de 2024

A violência contra as massas oprimidas avança também no campo

Boletim Que Fazer – Agosto de 2024



A violência do capitalismo no Brasil

Os mais recentes dados sobre a violência e repressão no país demonstram que o capitalismo no Brasil continua realizando uma verdadeira guerra contra as massas exploradas. Essa guerra visa manter a opressão de classe burguesa, reprimir as tentativas de revolta das massas e gerar as condições necessárias para a burguesia arrancar o seu lucro por meio de nosso suor e nosso sangue.

Nas cidades, as polícias continuam suas chacinas e o encarceramento em massa nas periferias, sobretudo contra a população trabalhadora. Atualmente, o estado assassina cerca de 6 mil pessoas por ano no Brasil. Fora os massacres causados pelas milícias e empresas do crime organizado. Hoje são mais de 850 mil pessoas presas, o que significa uma das maiores populações carcerárias do mundo. Números de uma verdadeira guerra.

Essa violência e repressão também permanece de forma brutal no campo e na floresta. Nessas regiões, trata-se também do confisco e exploração de terras, água e riquezas naturais de povos indígenas, quilombolas e camponeses. Seja por meio de milícias privadas ou pelos braços oficiais do estado. De qualquer forma, toda essa violência tem a mesma origem: as classes dominantes e a exploração que elas impõem!

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

XX Congresso do PCUS

Francisco Martins Rodrigues

2006

Passam 50 anos sobre o XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS). Com as suas críticas aos “graves erros” de Stalin, a declaração da “coexistência pacífica” com o imperialismo e o anúncio da “passagem pacífica ao socialismo” nas democracias burguesas, através da colaboração entre comunistas e social­democratas, o congresso desencadeou um terramoto no já cambaleante movimento comunista.


Kruschov discursa no XX Congresso do PCUS.

Kruschov justificava o seu “leninismo criador” com a “nova situação internacional criada pela força do campo socialista e pelo declínio do imperialismo”. Mas o otimismo aparente disfarçava mal a mudança de campo: o antagonismo e a vigilância que até aí animara os comunistas face ao imperialismo e à reação passavam a ser descartados como “sectarismo”.

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Quem possui e controla o capital globalmente?

Albina Gibadullina*

Desde a década de 1980, as finanças dos EUA cresceram desproporcionalmente em poder e influência, à medida que os fundos de investimento americanos se tornaram os maiores acionistas das corporações americanas, administrando dezenas de trilhões de dólares em investimentos. Este artigo fornece uma nova análise empírica da ascensão do capitalismo de gestores de ativos nos Estados Unidos.


De fato, ele explora a extensão de sua disseminação global, examinando o Formulário SEC de investidores institucionais dos EUA, juntamente com um extenso conjunto de dados de propriedade corporativa global fornecido pela Orbis. Este artigo conclui que as finanças dos EUA possuem aproximadamente 60% das empresas listadas nos EUA (era apenas 3% em 1945) e 28% do patrimônio de todas as empresas listadas globalmente.

Como maiores acionistas globais e gestores exemplares de ativos nos EUA, as Três Grandes detêm investimentos em 81% das empresas listadas nos EUA e possuem 17% do mercado de ações dos EUA, ao mesmo tempo em que aparecem como acionistas em 20% das empresas listadas em mercados de ações fora dos EUA e que possuem 4% das empresas não americanas mercado de ações.

terça-feira, 6 de agosto de 2024

Entre a ilusão de potência econômica e a realidade da exploração dos trabalhadores

Centro de Estudos Victor Meyer

03/08/2024

“Este país pode virar uma grande potência econômica”. Com essas palavras, Lula expressou, na cerimônia de inauguração da nova sede da Anfavea, o seu entusiasmo com os novos programas do governo de incentivo à indústria automobilística. Certamente levou em conta na avaliação ufanista a notícia vinda do FMI de que o Produto Interno Bruto (PIB) do país havia ultrapassado o do Canadá e o da Itália, figurando agora na oitava posição no ranking mundial.


Greve Renault Paraná
Trabalhadores da Renault no Paraná em greve, 06/2024, (foto:simec.com.br).


Mas como ser assim tão otimista, diante de alguns dados que revelam o fraco desempenho do país nos últimos anos no terreno econômico? O crescimento médio anual do PIB nos últimos dez anos foi de apenas 0,66%, compreendendo três anos em que simplesmente houve depressão econômica, ou seja, em 2015, 2016 e 2020 o país regrediu na produção de riquezas.

Sinal dessa fraqueza é a taxa que mede a proporção do investimento em relação ao PIB, que vem caindo, passando de uma média de 18,5%, de 2003 a 2013, para 16,4%, de 2014 a 2024. Isso mostra que a acumulação de capital no Brasil sofre de uma limitação crônica, especialmente quando comparada com a de outros países, estes sim pretendentes sérios ao título de “grande potência econômica”. A China, por exemplo, nunca apresentou uma taxa de investimento inferior a 40% em todos os anos, de 2010 até agora. Mesmo a Índia e a Indonésia têm taxas variando em torno de 30%, quase o dobro da brasileira.

sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Venezuela, reboquismo ou revolução?

Editorial

A recente eleição presidencial na Venezuela se constitui em mais uma página vergonhosa da história de traições do reformismo e do oportunismo na América Latina. Com pequenas nuances, vemos a repetição da velha tática reboquista de submissão aos interesses burgueses, buscando dividendos eleitorais e migalhas no aparelho de Estado.


Venezuela reboquismo ou revolução
Foto: YURI CORTEZ / AFP


Temos de um lado os apoiadores do governo burguês de Maduro, aliado da China e da Rússia, um governo que ataca sistematicamente as lutas dos trabalhadores e a organização sindical, perseguindo e prendendo ativistas. De outro, uma oposição umbilicalmente ligada aos EUA, reacionária e patronal até a medula. Os dois blocos  disputam a gestão do capitalismo, disputam quem vai tirar mais vantagens da gestão estatal, disputam quais interesses dos oligopólios empresariais vão predominar.

Na Venezuela vigora um sistema político em que os partidos identificados com o socialismo e as lutas operárias foram colocados na ilegalidade, impedidos de disputar a eleição. Diversas lideranças desses partidos foram perseguidas e presas. O brutal arrocho salarial favorece os patrões, sejam eles governistas ou opositores. A crise obrigou milhões de venezuelanos a saírem do país para não morrer de fome. É diante desse quadro terrível que o rebotalho reformista escolhe apoiar um ou outro bloco burguês. 

Ao proletariado venezuelano não interessa nenhuma dessas duas alternativas burguesas e imperialistas. Tanto uma, como outra, vão prosseguir no caminho de saquear os imensos recursos naturais do país e de super-explorar os trabalhadores. O caminho da revolução venezuelana passa longe dessa armadilha montada pelo oportunismo político e reformista. A crise entre as facções burguesas deve servir para fortalecer a organização independente da classe trabalhadora e das massas populares, para fazer avançar a revolução socialista.

Na Venezuela não se trata de defender uma democracia que, como vimos, não existe. O etapismo é a estratégia típica da pequena-burguesia, sempre subalterna aos interesses do patronato. Não semeemos ilusões, a crise só poderá ter um desfecho favorável para as grandes massas exploradas caso os dois blocos políticos da burguesia e do imperialismo sejam derrotados.

Na atual situação de crise imperialista mundial, conquistaremos uma verdadeira democracia quando for vitoriosa a luta pelo poder proletário e o socialismo.

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