Ney Nunes
25/08/2024
"Para manter sua hegemonia a burguesia necessita cada vez mais combinar contenção e repressão sobre uma sociedade mergulhada na violência cotidiana, onde milhões de pessoas são postas à margem do sistema, sobrevivendo na dependência de migalhas do Estado e de organizações filantrópicas."
Um frenesi toma conta da mídia e das redes sociais, novamente eleições e, desta vez, a sangrenta disputa é pelos cargos municipais. Nas regiões metropolitanas das grandes cidades "sangrenta" não é figura de linguagem, os atentados a bala contra candidatos são rotineiros. Rotineiras e repetitivas também são as velhas promessas, turbinadas por novas lorotas marqueteiras. Esse é o caldo de cultura de um sistema decadente que segue acelerado em direção à barbárie e necessita continuamente domesticar as massas para a burguesia continuar sugando delas seus fabulosos lucros.
Não faltam receitas, velhas ou novas, visando melhorar "transportes", "habitação, "saúde", "educação" e etc., como se a mudança efetiva nas condições de vida das massas populares dependesse apenas da tal "vontade política" dos governantes. Como se tudo na sociedade burguesa não fosse regido pela dominação de classe, pelo objetivo de manter essa dominação e extrair a maior rentabilidade de todas as atividades possíveis. Por essa razão, o bem comum da coletividade é sempre deixado em último plano.
Para manter sua hegemonia a burguesia necessita cada vez mais combinar contenção e repressão sobre uma sociedade mergulhada na violência cotidiana, onde milhões de pessoas são postas a margem do sistema, sobrevivendo na dependência de migalhas do Estado e de organizações filantrópicas. Cresce assim o peso do lumpesinato na população. O volume da crise social transborda e os presídios, vistos também como fonte de lucros através da terceirização e privatização, estão superlotados. O judiciário, ciente disso, aplica tornozeleiras eletrônicas como paliativo. A repressão nas favelas e periferias também foi terceirizada, tropas regulares do Estado policial burguês agora dividem espaço com narcomilícias que controlam negócios e territórios.
É nesse tecido social apodrecido que viceja a extrema-direita, aqui entre nós conhecida como bolsonarismo. Um movimento político burguês, amálgama de bandidos, oportunistas e fascistas que tiram vantagem do desespero da população acuada entre a violência policial e o banditismo. Essa camarilha também tem suas "receitas". Exploram a podridão da democracia burguesa em proveito próprio, passando a falsa imagem de patriotas e contestadores do sistema, quando, na verdade, não passam de marionetes de algumas facções das classes dominantes, entreguistas e vassalos do imperialismo.
Da mesma forma, não faltam também os reformadores do sistema. Aqueles oportunistas que almejam se eleger jogando ilusões nos olhos das massas e legitimam com sua ação a democracia burguesa. Trazem a receita reciclada do desenvolvimentismo, da cidadania e dos gastos sociais, ou seja, querem dourar a pílula do capitalismo. Bastaria para tanto uma gestão mais humana dos negócios do Estado burguês. Apontam como vilão da vez o "Teto de Gastos" que estaria na raiz de todos os males. Rompendo esse teto, haveria recursos para investir no "social". Esquecem de dizer que, com teto ou sem teto, o orçamento público é insuficiente porque na atual etapa do capitalismo a maior parte dos recursos públicos é drenada em proveito direto ou indireto dos interesses empresariais. O que advogam, na verdade, é melhor distribuição das migalhas. São candidatos a meros gestores da barbárie capitalista.
Edição: Página 1917