Ney Nunes
"Antes de aceitarmos a imposição para entrar na jaula do leão ou na do tigre, devemos considerar que apesar desses felinos serem bem diferentes, suas garras e mandíbulas são igualmente poderosas."
Quando a contradição e a desorientação
predominam, é natural que os argumentos se tornem rasos. Neste segundo turno
eleitoral é justamente isso o que presenciamos e de forma ainda mais intensa do
que no primeiro. De forma geral, aqueles que se reivindicam à esquerda do
petismo dizem que o prioritário é derrotar o fascista nas urnas para impedir um
segundo mandato que aprofundaria o “retrocesso civilizatório”. Diante do horror
despertado pelo avanço da extrema direita, apontam que existem apenas dois caminhos
possíveis: seguir a reboque da frente ampla social-liberal ou
sucumbir ao bolsonarismo.
Em reforço dessa tese, afirmam que os
defensores da abstenção ou do voto nulo colocam um sinal de igual entre Lula e
Bolsonaro ao não reconhecer que em muitos aspectos os dois candidatos são
diferentes: Lula defende a democracia, Bolsonaro a ditadura; Lula respeita a
independência dos poderes, Bolsonaro quer manietar o STF e etc. Mas esquecem,
de forma conveniente, de verificar as semelhanças. Elas existem e a principal delas
é estratégica, os dois candidatos têm como horizonte político atender aos
interesses gerais da classe dominante, servindo como administradores do Estado
burguês no âmbito da inserção subalterna do Brasil no sistema imperialista,
tendo, inclusive, já fornecido suficientes provas disso durante seus mandatos
presidenciais.
Ao falarem de um “retrocesso
civilizatório”, estão, na verdade, defendendo a continuidade dessa sociedade burguesa
em tempos de barbárie. Ignoram ou, fingem ignorar, que o bolsonarismo (assim
como o nazifascismo na Europa dos anos 1930) é subproduto da barbárie
capitalista, nasceu dos escombros de nossas derrotas, do retrocesso da
consciência de classe, da desorganização e fragmentação do proletariado nos últimos
trinta anos de hegemonia socialdemocrata no movimento de massas aqui no Brasil.
Está mais do que evidente que a burguesia
se apresenta dividida nesse segundo turno eleitoral e essa divisão expressa sua
crise diante de um capitalismo agonizante que exige doses cavalares de superexploração.
A diferença entre os dois blocos burgueses é quanto a melhor forma de manter a dominação
político-ideológica sobre as massas, sobre o grau de coerção e consenso
necessários para atingir esse objetivo. Mas o horizonte estratégico é o mesmo,
ou seja, manter o país atrelado de forma subalterna ao sistema imperialista mundial,
preservando assim os seus lucros bilionários e confinando a imensa maioria dos
brasileiros na situação de miséria.
O desfecho dessa verdadeira guerra de
classes não virá do resultado dessas eleições burguesas, as batalhas decisivas
ainda estão por vir e inevitavelmente serão cada vez mais violentas face ao avanço
da barbárie capitalista. O caminho gradual e pacífico desde sempre foi
interditado pela burguesia e o imperialismo, ele segue vigente apenas nos devaneios
reformistas daqueles que perderam o referencial da luta de classes. Reconstruir
o bloco proletário pelo socialismo, independente da burguesia e preparado para
o enfrentamento em todos os terrenos, é a única alternativa para não sermos
massacrados nesses futuros combates.
Antes
de aceitarmos a imposição para entrar na jaula do leão ou na do tigre, devemos considerar
que apesar desses felinos serem bem diferentes, suas garras e mandíbulas são
igualmente poderosas.
Edição: Página 1917
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