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quarta-feira, 12 de outubro de 2022

A Nova Guerra Total

Marildo Menegat * 



[...] No fim da fase liberal do capitalismo, na passagem do século XIX ao XX, se iniciou uma longa crise, que exigiu um reordenamento da dinâmica desta forma social, em que a insânia da guerra total chegou ao paroxismo da possível e quase realizada autoaniquilação da espécie, como ficou patente na capacidade de produzir a morte em escala inaudita durante a primeira e segunda guerras mundiais. Após essa fase, a reconstrução da marcha vencedora da civilização burguesa obrigou mudanças importantes nos fundamentos da teoria do Estado. A democracia de massas, ao que parece, era de fato a forma política mais estável para a sociedade que havia chegado à produção e ao consumo também de massas.** A legitimação deste Estado sustentada na socialização universal por meio da mercadoria, que a expansão da produção fordista com pleno emprego garantiu, dava a impressão de que o sistema teria encontrado um ponto de equilíbrio perpétuo. A defesa da democracia como valor universal cosolidou este período como um tempo de amnésia da sua força destrutiva encapsulada num duvidoso estágio avançado do progresso. No fim dos anos 1960, no entanto, a política americana - acompanhada pela Europa Ocidental - de "armas , pão e manteiga" passou a sofrer cada vez mais avarias e impossibilidades de prosseguir. A abertura de outra longa fase de crise e esgotamento do sistema, que perdura até hoje, há tempo tem exigido uma nova virada no parafuso da teoria do Estado e nos fundamentos de sua legitimação. As transformações tecnológicas dos processos de produção deste período mandaram para o inferno a quimera do pleno emprego no capitalismo. Nenhum Estado Nacional pelo mundo pôde bancar, desde a metade dos aos 1980, sua legitimação com o apoio das classes subalternas por meio de uma política social de bem-estar. O capitalismo já não consegue encenar o mito de ser uma civilização da inclusão mundializada por meio da imposição do trabalho. O univesalismo adquire sua vedade no inverso, assim como ocorreu com o progresso.

* Professor da UFRJ, autor de: Depois do Fim do Mundo - A crise da modernidade e a barbárie (Relume Dumará); O Olho da Barbárie (Expressão Popular); Estudos sobre Ruínas (Revan); A Crítica do Capitalismo em Tempos de Catástrofe (Consequência).

** Grifos do Editor.

Edição: Página 1917

Fonte: Marildo Menegat; A Crítica do Capitalismo em Tempos de Catástrofe; p. 151; Consequência; 2019.


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