Índice de Seções

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Crime, Castigo e Passagem de Pano Preventiva

André Lavinas* 


O oportunismo tem a goela larga.

O oportunismo de certa esquerda, realmente, não tem limites. 

Estas organizações tem produzido verdadeiras pérolas no afã de manter ao seu lado a militância honesta que ainda tem ilusões de que o PT e seus satélites ainda vislumbram o que Elias Jabour chama de "programa máximo", que no contexto só podemos supor que sejam reformas sociais em prol dos trabalhadores. 

Jabour já está dando uma desculpa para a provável manutenção, num futuro governo Lula, de todos os ataques perpetrados durante estes quase sete anos Temer / Bolsonaro. 

Nas suas palavras, “enquanto não tivermos no horizonte a transição socialista no Brasil, o programa máximo vai se adequando às tarefas estratégicas que comportam cada momento histórico...”. 

Quais seriam as tais “tarefas estratégicas que comportam cada momento histórico”, ele não revelou. 

Mas, deixando de lado a verborragia pseudomarxista e diversionista de Jabour, vamos ao que é revelado e compreensível do seu texto. 

Diante da afirmação de que o “programa máximo” deve ir se “adequando” ao “momento histórico” cabe a pergunta: 

 O “momento histórico” de hoje é o mesmo de 19 anos atrás, quando Lula assumiu e o PT iniciou o seu governo de mais de 14 anos ? 

Lembremo-nos que o PT não reverteu nenhuma privatização da "era" FHC, privatizou usinas elétricas, grandes aeroportos, leilooou a maior parte das reservas do Pré-sal, deu mais de 10 trilhões de dólares para banqueiros e grandes corporações via dívida pública, doou mais de um bilhão para a constituição do oligopólio da JBS, financiou a ocupação militar de favelas no RJ, foi cúmplice de Sérgio Cabral e Pezão durante todo o tempo que esses governos duraram, enfim, a lista é grande, vou parar por aqui. 

Este foi o resumo do PT no governo de 2002 à 2016. 

 Obviamente era outra conjuntura, diga-se de passagem, muito mais favorável em termos econômicos e de apoio popular para as ações do governo petista, só para citar dois aspectos. 

Se no "momento histórico" de 20 anos atrás o PT não foi capaz de mobilizar os trabalhadores para a “luta de classes em alta intensidade” necessária para reverter os retrocessos da era FHC, estará agora à altura desta tarefa? 

A resposta óbvia é não. 

A explícita operação “passa-pano preventiva” já nos diz que pouco ou nada se pode esperar do PT em termos de reverter os ataques sofridos durante o binomio Temer/Bolsonaro. 

Que dirá então avançar na reforma agrária, estatização dos bancos e das grandes corporações capitalistas, estatização do sistema de saúde e da universalização da educação pública e gratuita em todas as esferas? 

O PT já governou 15 anos em favor do grande capital e não esboçou nenhuma intenção de adotar mesmo reformas sociais dentro dos marcos da sociedade capitalista, como a reforma agrária, por exemplo. 

Esperar alguma iniciativa desta organização e suas adjacências no sentido de mobilizar os trabalhadores para a “luta de classes de alta intensidade” é de uma ingenuidade ímpar. 

Nem mesmo os fanáticos religiosos manteriam tamanha fé nesse tipo de messianismo cujo fracasso já é anunciado de antemão. 

Ou, talvez, Lula seja mesmo o novo messias e, como um outro messias mais famoso, promete uma vida de sofrimento e provações neste mundo, mas o paraíso, post mortem, é claro, para todos aqueles que acreditam nele cegamente e lhe darão seu voto ainda no primeiro turno.

*André Lavinas é bancário, poeta e diretor do Centro Cultural Octavio Brandão. 


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Caro leitor, ajude a divulgar o Página 1917, compartilhe nossas publicações nas suas redes sociais.