Essa Não é a Pergunta Certa a Fazer
Greg Godels
Lenin ironicamente nota a tendência reformista pequeno-burguesa de separar o imperialismo do capitalismo, de negar “o vínculo indissolúvel entre o imperialismo e os trustes e, portanto, entre o imperialismo e os próprios fundamentos do capitalismo…” Sem reconhecer o capitalismo como a fonte do imperialismo e da guerra, o anti-imperialismo continua a ser “um desejo piedoso'”
A obra de V.I.Lenin,
Imperialismo, continua a ser a principal elaboração do conceito de imperialismo
para os marxistas. É o ponto de partida para qualquer discussão sobre a
dinâmica global do capitalismo desde o final do século XIX até hoje.
Embora o capitalismo tenha
dado voltas, reviravoltas e até sofrido desvios desde a época de Lenin, o
objetivo permanece o mesmo – a exploração do trabalho com fins lucrativos, onde
quer que trabalhadores e recursos possam ser encontrados. A evolução,
concentração, crescimento e desenvolvimento desigual do capitalismo são as
condições necessárias para o imperialismo. O imperialismo não respeita
fronteiras sociais ou políticas.
A obra Imperialismo, capta
as características do capitalismo moderno – monopolista. No entanto, muitos,
aparentemente, não conseguem ler o subtítulo de Lenin: A fase superior do capitalismo. Não conseguem entender que Lenin
está a escrever, a elaborar, a explicar uma fase particular do capitalismo, e
não a atribuir características a Estados individuais. Está a descrever um
período historicamente limitado, um período em que o capital na sua forma
madura, financeiramente organizada e monopolista passa a dominar o mundo
inteiro através das conquistas das “grandes potências”. Nas palavras de Lenin:
“devemos dizer que o traço característico
desse período [o imperialismo] é a divisão final do globo – não no sentido de
que uma nova divisão é impossível – pelo contrário, novas divisões são
possíveis e inevitáveis – mas no sentido de que a a política colonial dos
países capitalistas completou a tomada dos territórios desocupados do nosso
planeta... no futuro só é possível a redivisão” (p. 76)
Como o método de Marx
exige, Lenin está a abordar processos, tendências – neste caso, uma tendência
do capital não apenas para dominar Estados-nação, até regiões, mas o mundo
inteiro. É o completar ou redividir que define o imperialismo como uma era
histórica, um processo que – por meio da concorrência – cria alianças e blocos
em constante mudança. Em última análise, é a intensa competição transportada
para além das fronteiras nacionais que pode acabar por ser resolvida com as armas,
pelas guerras.
Esses processos que Lenin
associa ao imperialismo ocorrem de forma desigual e de diferentes formas. Após
a revolução bolchevique, a dominação do capitalismo monopolista de todo o mundo
foi interrompida pela existência da União Soviética. Seguiu-se uma cruzada
anticomunista por parte das grandes potências capitalistas, mas o processo
subjacente permaneceu o mesmo: entregar cada trabalhador e camponês nos braços
do capital monopolista e financeiro.
Mais uma vez, após a
Segunda Guerra Mundial, o crescente poder e a influência de uma comunidade
socialista foram decisivos na libertação de quase todas as que antes eram colônias
das grandes potências. Novos países “independentes” surgiram na Ásia e na
África. Mas a tendência subjacente identificada por Lenin expressou-se
novamente através de uma nova expressão do imperialismo: o neocolonialismo.
O neocolonialismo manteve
as antigas vantagens econômicas para as grandes potências dominantes, mas sem o
ónus da ocupação e administração. “Esferas de influência”, um termo mais
benigno cunhado no século XIX, captou a tendência do capital de penetrar em
todos os cantos do mundo, enquanto mascarava a subjugação crua implícita nas “colônias”.
Assim nasceu uma “independência” dependente, cimentada mais pela necessidade
econômica do que pela coerção nua.
Com a queda da União
Soviética, o andaime econômico mais viável para o desenvolvimento independente
fora do sistema imperialista foi eliminado. Comentaristas ocidentais celebraram
vigorosamente a perspectiva de penetração capitalista desimpedida em todos os
países, sem exceção. Enormes mercados de trabalho entraram no sistema
capitalista da Europa Oriental e da Ásia, reduzindo drasticamente os custos de
bens, serviços e, mais importante, mão de obra.
O capitalismo ganhou um
segundo fôlego, desfrutando de taxas de crescimento e lucro mais altas e mais
estáveis.
Os capitalistas correram a
abrir novos mercados, remover impedimentos ao comércio, acelerar investimentos
estrangeiros, garantir a reciprocidade de uma maneira nunca vista desde as
primeiras décadas do imperialismo moderno. De fato, as últimas décadas do
século XX assemelharam-se àquele período anterior do imperialismo clássico para
muitos marxistas.
Ironicamente, o
triunfalismo capitalista serviu para sublinhar a atualidade da teoria do
imperialismo de Lenin. Mais uma vez, a economia global foi dominada pela
mobilização das grandes potências, à procura de vantagens econômicas
(exploração) e esferas de influência.
Com os EUA, tal como a
Grã-Bretanha na sua glória do século XIX, reivindicando o direito de determinar
os termos da atividade econômica e do comércio para o mundo, previa-se um
período de cooperação e paz. Nessa visão, os vínculos econômicos capitalistas e
a dependência mútua serviriam para cimentar as relações sociais e políticas e
assegurar a estabilidade nas relações internacionais. Uma nova ordem mundial
seria bem-vinda por todos e garantida pelos EUA.
Aqueles poucos no Ocidente
familiarizados com o revisionismo marxista do início do século XX notaram que
essa ficção era notavelmente semelhante à teoria do “ultra imperialismo” de
Karl Kautsky, uma teoria segundo a qual as grandes potências dividiriam o mundo
e resolveriam a questão entre si sem atrito ou conflito.
Lenin, muito antes, troçou
dessa ideia. Quando escreveu o Imperialismo, em 1916, ele viu a catástrofe da
Primeira Guerra Mundial como a refutação decisiva da ideia de imperialismo
estável ou equilíbrio imperialista. A maior parte da esquerda ocidental não
comunista, alienada do leninismo e cega aos paralelos históricos, lutou para
dar sentido à “nova” era pós-soviética, falhando em conectá-la com o
imperialismo clássico descrito por Lenin e seus adeptos. Sem uma teoria, eles
cunharam enigmaticamente o termo vazio “globalização” para descrever as
réplicas do capital monopolista.
As teorias pós-marxistas,
pós-fordistas e pós-modernistas abundavam. Alguns “marxistas” acadêmicos
pensaram que o final do século XX inaugurou uma era de enfraquecimento do
Estado-nação. Outros pensavam que estávamos a ver a ascensão de um supra estado,
o Império, uma entidade totalizadora surgindo no mundo como um invasor
alienígena.
A celebração do
triunfalismo capitalista terminou abruptamente com o retorno de guerras
constantes e quase intermináveis e frequentes crises políticas e econômicas.
Juntamente com a saída do imperialismo “benigno”, as fantasias teóricas de
esquerda desvaneceram-se.
O comércio global
contraiu-se após a crise de 2007-2009 e as tensões entre os países capitalistas
aumentaram na determinação de quem ganharia e quem arcaria com o ônus de uma
economia global lenta ou estagnada.
As forças centrífugas na
Uniaõ Europeia (UE) dividem a UE de norte a sul. A Alemanha domina as políticas da UE, impondo
austeridade de tamanho único a diversos Estados desigualmente desenvolvidos.
A impressionante entrada
da República Popular da China na economia capitalista global e o notável
crescimento subsequente ameaçam a hegemonia dos EUA, criando concorrência e
tensões.
Os EUA têm procurado
reprimir o desenvolvimento independente fora das hierarquias globais, usando
substitutos, guerra por outros meios: sanções, boicotes e tarifas. E com uma
resistência extremamente obstinada, os EUA utilizam o seu aparelho de estimular
golpes ou enviam as suas tropas para subjugar aqueles que ousam escapar do
redil imperialista construído pelos EUA.
“Novas” grandes potências
substituíram ou mudaram de lugar com o alinhamento ativo do tempo de Lenin. A
União Europeia, apesar das diferenças entre os seus membros, delineou uma agenda
imperialista sob a batuta americana da OTAN, como o testemunham a sua
participação no desmantelamento da Jugoslávia e as suas guerras no Afeganistão,
Iraque, Líbia e Síria.
A Arábia Saudita,
impregnada de petrodólares, procura impor a sua influência sobre os vizinhos,
atitude demonstrada mais recentemente pela sua sangrenta guerra no Iêmen. Até
mesmo o minúsculo Israel participa na disputa imperialista ao anexar
territórios dos seus vizinhos e do povo palestiniano.
Onde há capitalismo, há
uma procura por território, recursos, força de trabalho ou influência. Como na época de Lenin,
os países coabitam nesse caldeirão caótico e instável de diferentes maneiras –
às vezes como potências maiores, outras vezes como potências menores ou então
como vítimas. A concorrência - promoção
ou proteção de interesses econômicos – agita esse caldeirão.
No Imperialismo, Lenin não
identifica os países como “imperialistas”, sem uma qualificação. Isso violaria
o seu firme reconhecimento do desenvolvimento desigual. No capítulo VI, “A divisão do mundo entre as grandes
potências”, ele identifica simplesmente os países (os seis grandes!) que
foram mais ativos, entre 1876 e 1914, na aquisição de colônias.
Pode fazer-se a
interpretação de que ele estabelecia uma hierarquia imperialista, mas isso
também não é correto. Lenin, sempre atento às contingências históricas e às
forças sociais em mudança chega, de certo modo, a descrever a variedade dentro
das “grandes potências”: “ainda
permanecem grandes diferenças; e entre as seis potências, vemos, em primeiro
lugar, as potências capitalistas jovens (América, Alemanha, Japão) que
progrediram muito rapidamente; em segundo lugar, países com um desenvolvimento
capitalista já antigo (França e Grã-Bretanha)... e, em terceiro lugar, um país
(Rússia) economicamente mais atrasado, no qual o imperialismo capitalista
moderno está enredado, por assim dizer, numa rede particularmente estreita de
relações pré-capitalistas.”
Lenin não deixa dúvidas de
que um país (Rússia czarista) pode ser um grande participante na disputa
imperialista por colônias (ou esferas de influência) enquanto permanece como um
país capitalista menos robusto com restos de formações econômicas anteriores e
sinais ou características de futuras formações (não capitalistas). Por outras
palavras, o seu lugar no sistema imperialista não é estritamente determinado
pelo seu lugar na hierarquia capitalista – esse país pode ser uma brilhante
jovem estrela capitalista ou uma estrela decadente e velha, agarrada a um
passado brilhante, enquanto ainda desempenha um papel decisivo no jogos do
império.
Seria errado, como
argumentaram alguns, tomar mecanicamente as “cinco características essenciais”
de Lenin encontradas no Capítulo VII como um critério para admissão nalgum tipo
de clube imperialista. Não poderia ser mais claro que “O imperialismo como uma fase especial do capitalismo” não se refere
ao estatuto de países individuais no sistema imperialista, mas ao imperialismo
como um todo.
A concentração de capital,
a fusão do capital financeiro com o capital industrial, a exportação de
capital, os monopólios internacionais e a divisão territorial do mundo (esferas
de interesse) são características da fase imperialista do capitalismo, e não
necessariamente de qualquer país individual no projeto imperial.
Países – pequenos ou
grandes, desenvolvidos ou atrasados, abastados ou empobrecidos – desempenham
diferentes papéis em diferentes momentos na marcha do imperialismo.
Seja a Rússia czarista
(uma mistura de relações capitalistas emergentes nas áreas urbanas e relações
feudais que mal tinham terminado nas áreas rurais) ou a Rússia de Putin (uma
economia capitalista industrial atrofiada, mas com enormes recursos
essenciais), a capacidade de participar em atividades de grande potência, para
ampliar ou proteger esferas de interesse, enfrentar outras grandes potências é
uma realidade inquestionável. Esconder essa realidade – essa participação ativa
no conflito com outros países capitalistas – por trás da fachada de que a
Rússia não atende às “cinco características essenciais” que caracterizam a era
imperialista é puro sofisma.
Lenin é claro. Além das
“grandes potências” há uma série de países cuja “participação” no sistema
imperialista é complexa. A dialética do desenvolvimento desigual não produz
tipos ideais.
Lenin fala de atores
menores no sistema imperialista que têm relações diversas com o imperialismo.
Alguns têm as suas próprias colônias, mas “retêm
as suas colônias apenas por causa dos interesses conflitantes, atritos etc.,
entre as grandes potências...” Correm o risco de perder as suas colônias
por uma nova “partilha” colonial entre as grandes potências.
Ele também reconhece
“semi-colônias” como a Pérsia, a China e a Turquia que eram, no seu tempo,
nominalmente independentes, mas profundamente exploradas pelas grandes
potências. Refere-se a eles como “exemplos de formas de transição que podem
ser encontradas em todas as esferas da natureza e da sociedade”; eles estão
“numa fase intermediária”. Hoje,
todos os três fizeram a transição para atores maiores no firmamento
capitalista.
Na sua discussão sobre
Argentina e Portugal, Lenin antecipa o conceito marxista de “neocolonialismo”
surgido em meados do século XX, discutindo como países independentes podem
estar vinculados ao nexo imperialista sendo financeiramente dependentes ou sendo
protetorados.
Assim, Lenin mostra, com
grandes nuances, que o imperialismo é um sistema global dinâmico, em constante
movimento, e que os países participam no sistema de várias maneiras. Os
imperativos do capital monopolista obrigam todos os países capitalistas a
procurar vantagens na competição por recursos, mercados e força de trabalho. Nessa luta,
há aqueles que se tornam poderes maiores e dominam os outros pelo exercício do
seu poder. As potências menores perdem para os mais poderosos, mas podem
aspirar a desafiar, ou exercer o seu poder sobre os menos poderosos. O sistema
tende a envolver todas as economias em relações de dominação e dependência. A
concorrência gera agressão e guerra.
Lenin ironicamente nota a
tendência reformista pequeno-burguesa de separar o imperialismo do capitalismo,
de negar “o vínculo indissolúvel entre o
imperialismo e os trustes e, portanto, entre o imperialismo e os próprios
fundamentos do capitalismo…” Sem reconhecer o capitalismo como a fonte do
imperialismo e guerra, o anti-imperialismo continua a ser “um 'desejo piedoso”.
Pode ser útil resumir esta
discussão mostrando como uma leitura mais atenta do Imperialismo pode lançar
luz sobre o imperialismo do século XXI.
1 - O imperialismo do
século XXI compartilha mais características com o imperialismo do tempo de Lenin
do que diferenças.
2 - O imperialismo
constitui um sistema de concorrência global por recursos, mercados e força de
trabalho que coloca os países capitalistas uns contra os outros para
estabelecer esferas de interesse e um melhor campo de operação para os seus
monopólios. A luta instigada pelos EUA pelo domínio da Ucrânia envolve
monopólios no setor de energia e na indústria de armas, bem como uma tentativa
de garantir e expandir as esferas de interesse existentes. Enquanto os EUA são
a grande potência mais poderosa e instigadora, a Rússia é uma aspirante a
grande potência levada a invadir um país “em transição” – a Ucrânia. Com
sucessivos governos corruptos, a Ucrânia, desde a sua independência, anseia por
ser um protetorado de uma grande potência, aquela que oferecer os melhores
negócios. Em jogo estão os interesses das várias classes dominantes.
3 - O argumento popular
entre os ocidentais que se dizem de esquerda, sobre se a Rússia é um país
imperialista ou um país anti-imperialista que se opõe ao imperialismo dos EUA e
da EU, é um debate estéril e escolástico. De uma perspectiva leninista, a
Rússia de hoje, como a Rússia czarista, é um país capitalista nascente que
disputa uma posição como força de liderança na disputa por mercados e esferas
de interesse. O envolvimento da Rússia num desafio ao imperialismo dos EUA – na
Síria, Cuba, Venezuela, etc. – é apenas isso: desafio a um rival. Que rivais
poderosos estão a ameaçar agressivamente as ambições da Rússia é visível, mas
de pouca influência sobre os interesses da classe trabalhadora russa,
ucraniana, norte-americana ou da União Europeia.
4 - De fato, o “progresso”
da guerra na Ucrânia – como uma perspectiva leninista poderia prever – afetou
dramaticamente e negativamente o destino dos trabalhadores globalmente. Milhões
de vidas foram interrompidas, prejudicadas ou acabadas.
5 - O fim da União
Soviética libertou a mão do imperialismo, produzindo um mundo substancialmente
congruente com o imperialismo do início do século XX. Alguns dos atores mudaram
ou assumiram papéis diferentes, mas a lógica do imperialismo das grandes
potências está intacta. Aqueles de nós que defendem o papel histórico da União
Soviética devem dissipar qualquer apego romântico remanescente à Rússia de
hoje, pois ela participa do sistema global do imperialismo como uma grande
potência.
6 - Como Lenin adverte, a
tentativa de separar o imperialismo das suas raízes capitalistas destina o
anti-imperialismo à ineficácia – “reformismo pequeno-burguês”. O
anti-imperialismo moralista, o que Lenin chama “o último dos moicanos da
democracia burguesa”, desaba no pacifismo – uma postura boa para a alma, mas
impotente contra os esquemas das grandes potências. A celebração que hoje fazem
muitos dos que se dizem de esquerda de um mundo capitalista “multipolar” projetado
é mais uma tentativa de separar as rivalidades das grandes potências das suas
raízes nos interesses capitalistas – especificamente, monopolistas. A
multipolaridade era uma característica do imperialismo no prelúdio da Primeira
Guerra Mundial. De fato, a tentativa de impor a multipolaridade a um mundo
sobrecarregado com a dominação do Império Britânico foi um fator crítico que
levou à Primeira Guerra Mundial.
7 - O abandono do
leninismo é essencialmente um abandono do socialismo. Fé desesperada e infundada
(a) na eficácia da multipolaridade, (b)
na esperança de encontrar um ponto de encontro anti-imperialista em torno de um
ex-Estado socialista estripado e devastado agora possuído por mega-bilionários,
(c) na transformação milagrosa dos partidos burgueses ocidentais, movidos pelo
dinheiro e liderados pela elite, e (d)
na crença de que a esquerda fragmentada, egocêntrica, com interesses vários e
multi-identitária pode unir-se por magia numa força para mudanças radicais são
todos produtos de uma perda de confiança no projeto socialista.
As lições da história e os
professores mais brilhantes da história são os melhores guias para o futuro que
queremos. Plus ça change, plus c'est la même chose. [Quanto mais muda, mais é a
mesma coisa]
Fonte: https://pelosocialismo.blogs.sapo.pt/a-russia-e-um-pais-imperialista-essa-193721
Edição: Página
1917
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