Coadjuvantes Perigosos
Ney Nunes
O governo do presidente fascista Bolsonaro e seu bando reacionário segue em ritmo de crise. Acumulando desgastes desde a posse, o presidente, que serve diretamente aos interesses da burguesia hegemônica e do imperialismo norte-americano, acalenta o sonho de ser um “Bonaparte Salvador” acima das frações burguesas, munido de carta branca para esmagar as organizações proletárias e populares. Sonho este que vai ficando mais distante na exata proporção do agravamento da crise econômica, social e política em que o país em mergulhando no contexto da decadência capitalista.
Manifestação anti-bolsonaro. |
O imperialismo e a burguesia brasileira estão seguros de que, mesmo nessa conjuntura de crise, o regime político democrático burguês continua sendo a forma mais eficiente para manutenção do poder. Esse sistema agrupa as condições mais favoráveis de negociação dos seus interesses particulares no processo de acumulação e desenvolvimento do capitalismo periférico. Tese facilmente comprovada, bastando para tanto, nos debruçarmos sobre as medidas implementadas pelas instituições da democracia burguesa desde a queda da ditadura empresarial-militar. Em última instância, por todo esse período, Congresso, Judiciário e Executivo atenderam aos interesses empresariais, retirando direitos dos trabalhadores, privatizando empresas e serviços públicos, distribuindo migalhas e criando falsas expectativas para as massas exploradas.
Bolsonaro é o “remendo de emergência” encontrado pela burguesia (classe ingrata) para impedir a volta do PT ao governo, se revela a cada dia mais um estorvo ao “bom governo” dos interesses burgueses. Sem popularidade, envolvido em corrupção, ligado a grupos paramilitares, o biltre terá pouca serventia para gerir uma crise de longa duração, no âmbito da reprimarização da economia brasileira marcada pelo desemprego massivo e miséria crescente. O dilema burguês-imperialista consiste nisso: o que fazer com esse remendo esfarrapado? Deixá-lo apodrecer até as eleições de 2022? Ou retirá-lo de imediato através do impeachment?
O relógio corre a favor da primeira opção, até aqui, a preferencial do arco político democrático-burguês. Mas o desenrolar da crise não permite ainda o descarte da segunda. Dessa forma, as manifestações pelo “Fora Bolsonaro” cumprem um duplo papel, contribuem para desgastar o governo, preparando o terreno para sua derrota eleitoral em 2022 e, ao mesmo tempo, servem como pressão sobre o Congresso para abrir o processo de impeachment.
A questão é que para reforçar essas manifestações, o arco político da democracia burguesa não pode prescindir de convidar (através da sua “ala esquerda”) um personagem incômodo, o proletariado. Convenhamos, realizar atos massivos contando apenas com a burguesia e a pequena-burguesia é bem difícil. Mas que fique bem claro, o convite é para o proletariado ser um mero coadjuvante, nada além disso. Reformistas e revisionistas, a ala esquerda da democracia burguesa, são incumbidos dessa tarefa. Para tal, o convite ao coadjuvante já vem com programa e palavra de ordens permitidos, nada que ameace a ordem burguesa ou reforce a independência política do proletariado em relação aos seus inimigos de classe.
Sem dúvida, derrubar o governo do biltre fascista Bolsonaro interessa ao proletariado, mas a questão é: com qual perspectiva? A de salvar a democracia burguesa que estaria em perigo? A mesma democracia que se arma para conter o movimento operário e popular através do seu aparato policial e da legislação repressiva como a lei Antiterrorismo e Garantia da Lei e da Ordem (GLO)? Defender o Congresso e o STF? Quando são eles que aprovam e aplicam as leis que retiram nossos parcos direitos, aumentando a exploração da classe trabalhadora? Pelo contrário, a perspectiva do movimento de massas só pode ser a de derrubar Bolsonaro juntamente com a democracia burguesa.
Reformismo e revisionismo são a quinta coluna pequeno-burguesa em nosso meio. Só nos levaram às derrotas e contribuem com a manutenção ou restauração do poder dos capitalistas nos países em que ocorreram revoluções. Respondemos com um sonoro “Não” a esse convite para sermos meros coadjuvantes, rebocados pelos interesses burgueses.
Edição: Página 1917.
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