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quarta-feira, 23 de junho de 2021

Crise do Marxismo e Revisionismo*

Marcos Del Roio

 

   Desde os anos de 1970, com altos e baixos, conforme se desenrola a crise do capitalismo, muito se fala da crise do marxismo. Evidente que essa é uma faceta da luta de classes, da luta entre os interesses históricos dos trabalhadores e os interesses do capital. De fato, desde os anos de 1970, e de maneira crescente, é inegável que as instituições criadas pelo movimento operário – a cooperativa, o sindicato, o partido político – e a ideologia que lhe servia de suporte, além da própria materialidade da classe, foram sendo dizimados pelo capital em crise.

Marcos Del Roio


   Neste processo, uma gama enorme de intelectuais ficou convencida de que a obra de Marx, assim como toda a tradição teórica e cultural dele derivada, estava superada. Ocorreu então um movimento (ou corrida) em direção à formulação das mais variadas formas de revisionismo, as quais, de maneira inevitável, passaram a usar os recursos teóricos e ideológicos forjados pelo liberalismo no correr dos trezentos anos de existência do capitalismo. Muitos se jogaram sem pestanejar nos braços do capital e da ideologia liberal, num salve-se quem puder; outros tentaram forjar uma “nova esquerda” de feição ideológica dita pós-moderna; outros ainda se contentaram em afinar a teoria liberal- democrática.

   Aos marxistas restou fincar bandeira para estudar os limites encontráveis nas lutas épicas travadas no decorrer do século XX, além de continuar a sustentar que a contradição em processo não só persistia, mas que se se acirrava de modo tão grave que colocava em risco a própria existência da humanidade. Ao contrário de outros, o que se notava entre os marxistas mais atentos era que a contradição passava também a evidenciar elementos correlatos da contradição capital versus trabalho, como a devastadora crise ambiental e a exploração sexista.

   A tragédia da época está no deslocamento da teoria em relação aos trabalhadores. Essa cisão da práxis debilita tanto a capacidade de formulação teórica como as lutas dos trabalhadores, que não conseguem passar da fase de resistência por estarem eles mesmos imbuídos de ideologias revisionistas que os mantêm atados ao domínio do capital, quando não, envolvidos por ideologias regressivas, fascistas ou religiosas. Agora que se aprofunda a crise social gerada pelo empenho do capital em superar a sua própria crise de acumulação, cabe, com urgência sempre maior, recompor a unidade da práxis, desenvolver a teoria no calor de lutas que possam ser ofensivas, com a postulação de que a transição socialista é o único caminho viável para a superação da crise do capital e do próprio Homo sapiens.

   No entanto, crise do marxismo e revisionismo não são novidades históricas, assim como não o é crise do capital. Esses elementos todos são constitutivos da luta de classes e de suas representações. A exigência é sempre a de capturar a natureza da fase, que implica sempre a apreensão do movimento da contradição e das tendências postas pela correlação de forças. [...]

* Trecho do prefácio; livro: Gramsci, Marxismo e Revisionismo; Leandro Galastri; Editora Autores Associados; 2015.

Edição: Página 1917

 

 

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