Marcos Del Roio
Desde os anos de 1970, com altos e baixos,
conforme se desenrola a crise do capitalismo, muito se fala da crise do
marxismo. Evidente que essa é uma faceta da luta de classes, da luta entre os
interesses históricos dos trabalhadores e os interesses do capital. De fato,
desde os anos de 1970, e de maneira crescente, é inegável que as instituições
criadas pelo movimento operário – a cooperativa, o sindicato, o partido
político – e a ideologia que lhe servia de suporte, além da própria
materialidade da classe, foram sendo dizimados pelo capital em crise.
Marcos Del Roio |
Neste processo, uma gama enorme de
intelectuais ficou convencida de que a obra de Marx, assim como toda a tradição
teórica e cultural dele derivada, estava superada. Ocorreu então um movimento
(ou corrida) em direção à formulação das mais variadas formas de revisionismo, as quais, de maneira
inevitável, passaram a usar os recursos teóricos e ideológicos forjados pelo
liberalismo no correr dos trezentos anos de existência do capitalismo. Muitos
se jogaram sem pestanejar nos braços do capital e da ideologia liberal, num
salve-se quem puder; outros tentaram forjar uma “nova esquerda” de feição
ideológica dita pós-moderna; outros ainda se contentaram em afinar a teoria
liberal- democrática.
Aos marxistas restou fincar bandeira para
estudar os limites encontráveis nas lutas épicas travadas no decorrer do século
XX, além de continuar a sustentar que a contradição em processo não só
persistia, mas que se se acirrava de modo tão grave que colocava em risco a
própria existência da humanidade. Ao contrário de outros, o que se notava entre
os marxistas mais atentos era que a contradição passava também a evidenciar
elementos correlatos da contradição capital versus
trabalho, como a devastadora crise ambiental e a exploração sexista.
A tragédia da época está no deslocamento da
teoria em relação aos trabalhadores. Essa cisão da práxis debilita tanto a
capacidade de formulação teórica como as lutas dos trabalhadores, que não
conseguem passar da fase de resistência por estarem eles mesmos imbuídos de
ideologias revisionistas que os mantêm atados ao domínio do capital, quando
não, envolvidos por ideologias regressivas, fascistas ou religiosas. Agora que
se aprofunda a crise social gerada pelo empenho do capital em superar a sua
própria crise de acumulação, cabe, com urgência sempre maior, recompor a
unidade da práxis, desenvolver a teoria no calor de lutas que possam ser
ofensivas, com a postulação de que a transição socialista é o único caminho
viável para a superação da crise do capital e do próprio Homo sapiens.
No entanto, crise do marxismo e revisionismo
não são novidades históricas, assim como não o é crise do capital. Esses
elementos todos são constitutivos da luta de classes e de suas representações.
A exigência é sempre a de capturar a natureza da fase, que implica sempre a
apreensão do movimento da contradição e das tendências postas pela correlação
de forças. [...]
* Trecho do prefácio; livro: Gramsci, Marxismo e Revisionismo; Leandro Galastri; Editora Autores
Associados; 2015.
Edição: Página 1917
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