Karl Marx
[...]As condições econômicas tinham a
princípio transformado a massa da população do país em trabalhadores. A
dominação do capital criou para esta massa uma situação comum, interesses
comuns. Assim, esta massa já é uma classe diante do capital, mas ainda não o é para si mesma. Na luta, da qual assinalamos apenas algumas fases, esta massa se
reúne, se constitui em classe em si mesma. Os interesses que ela defende
tornam-se interesses de classe. Mas a luta de classes é uma luta
política.
Nascimento de Karl Marx, 05/05/1818. |
Na história da burguesia, temos duas fases a distinguir: aquela durante a qual
ela se constituiu em classe sob o regime da feudalidade e da monarquia
absoluta, e aquela em que, já constituída em classe, derrubou a feudalidade e a
monarquia, para fazer da sociedade uma sociedade burguesa. A primeira destas
fases foi a mais longa e nela foram necessários os maiores esforços. Ela também
havia começado por coalizões parciais contra os senhores feudais.
Muitas pesquisas têm sido feitas para se poder descrever as diferentes fases históricas que a burguesia percorreu, desde a comuna até sua constituição como classe.Mas quando se trata de se apresentar um relato exato das greves, das coalizões e das outras formas nas quais os proletários realizam diante de nossos olhos a sua organização como classe, vemos que certas pessoas são tomadas de um temor real, ostentando outras um desdém transcendental.
Uma classe oprimida é a condição vital de toda sociedade fundada
no antagonismo das classes. A libertação da classe oprimida implica, pois
necessariamente, a criação de uma sociedade nova. Para que a classe oprimida
possa se libertar, é preciso que as forças produtivas já adquiridas e as
relações sociais existentes não possam mais existir lado a lado. De todos os
instrumentos de produção, a maior força produtiva é a própria classe
revolucionária. A organização dos elementos revolucionários como classe supõe a
existência de todas as forças produtivas que podiam se engendrar no seio da
velha sociedade.
Quererá isto dizer que depois da queda da antiga sociedade haverá
uma nova dominação de classe, resumindo-se num novo poder político? Não.
A condição de libertação da classe trabalhadora é a abolição de
todas as classes, do mesmo modo como a condição de libertação do
Terceiro-Estado, da ordem burguesa, foi a abolição de todos os estados e de
todas as ordens.
A classe trabalhadora substituirá, no curso de seu
desenvolvimento, a antiga sociedade civil por uma associação que excluirá as
classes e seu antagonismo, e não haverá mais poder político propriamente dito,
pois que o poder político é precisamente o resumo oficial do antagonismo na
sociedade civil.
No período de espera, o antagonismo entre o proletariado e a
burguesia é uma luta de classe contra classe, luta que, levada à sua mais alta
expressão, é uma revolução total. Aliás, devemos nos admirar de que uma
sociedade, fundada na oposição das
coisas, chegue à contradição brutal,
a um choque corpo-a-corpo como última solução?
Não digais que o movimento social exclui o movimento político. Não
haverá jamais movimento político que não seja social ao mesmo tempo.
Não será senão numa ordem de coisas na qual não haja mais classes
e antagonismo de classes, que as evoluções
sociais deixarão de ser revoluções políticas. Até lá, nas
vésperas de cada remodelação geral da sociedade, a última palavra da ciência
social será sempre:
"O combate ou a morte: a luta sanguinária ou
o nada. É assim que inelutavelmente se apresenta a questão.” (George
Sand)¹
¹ A frase
é extraída do romance histórico Jean Ziska.
* Fonte: A Miséria da Filosofia; trecho de As greves e as coalizões de operários.
Edição: Página 1917.
Nenhum comentário:
Postar um comentário