Ney Nunes*
Os anúncios, na mesma semana, de mais um plano de reestruturação do Banco do Brasil (leia-se plano de desmonte para privatizar) e do fechamento de todas as fábricas da Ford no país, trouxeram à tona o que os “maquiladores” do capitalismo tanto esforço fazem para ocultar, ou seja, na atual fase desse sistema econômico caduco não existe possibilidade para devaneios reformistas.
Protesto contra fechamento da Ford em São Bernardo, 2019. |
No BB, o desmonte do banco público vem acontecendo desde o governo Dilma, foi intensificado por Temer e agora mais ainda pelo fascista Bolsonaro. O objetivo é arrochar os funcionários, transferir para os bancos privados as operações mais rentáveis do BB, reduzir seu espaço no mercado e, finalmente, vender por qualquer ninharia o que restar. Em plena pandemia o plano atual, reduz mais uma vez a rede de agências, corta salários, funções gratificadas e prevê a redução de 5 mil postos de trabalho. Serão fechadas 361 unidades, sendo 112 agências, 7 escritórios e 242 postos de atendimento. Um encolhimento premeditado que vai muito além dos efeitos da automação bancária, feito na medida para favorecer os bancos privados.
A Ford chegou ao Brasil em 1919, mas, como outras montadoras, cresceu de forma acelerada a partir da metade do século XX, aproveitando-se do rodoviarismo incrementado no país após o fim da Segunda Guerra Mundial, em detrimento do transporte ferroviário. Também se beneficiou dos conhecidos e generosos incentivos fiscais. Depois de um século remetendo milhões de dólares de lucros obtidos graças a esses incentivos fiscais e, principalmente, explorando a mão-de-obra barata do trabalhador brasileiro, a Ford anunciou o fechamento das suas três fábricas restantes no país (em 2019 já havia fechado a de São Bernardo em SP). Isso faz parte de um processo de reestruturação mundial da empresa para reduzir custos e aumentar a lucratividade, deixando aqui no Brasil um saldo de milhares de desempregados.
Nesses dois casos, assim como, em inúmeros outros que vêm se sucedendo ao longo das últimas décadas, as decisões dos capitalistas e dos seus prepostos nos governos estão sempre na direção de concentrar o capital e a renda, às custas da superexploração dos trabalhadores. Esses fatos indicam não existirem mais condições para remendos na teia desse sistema, a sua continuidade representa um verdadeiro passaporte para a barbárie.
Quando reformismo se confunde a luz do dia com neoliberalismo, os disfarces para “embelezar” o capitalismo começam a cair por terra. O caminho da classe trabalhadora é a retomada da consciência de classe, da organização e da unidade para lutar, bases imprescindíveis para os enfrentamentos que tendem a ser cada vez mais radicalizados contra o capital. Esse caminho é o da revolução.
*Diretor do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro e ex-funcionário do Banco do Brasil.
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