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quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

O Impacto da “AUKUS” na Conjuntura Internacional e a Posição dos Comunistas*

KKE (Partido Comunista da Grécia)

A aliança de "segurança" trilateral entre os EUA, Austrália e Reino Unido sob a sigla "AUKUS", anunciada em 15 de setembro de 2021, foi um acontecimento significativo na estrutura de alianças imperialistas.

Mas o que significa esse acontecimento e que tarefas adicionais surgem para o movimento comunista?

 


A importância da região do Indo-Pacífico

 

Embora este novo acordo tenha sido concluído entre três potências não asiáticas, ao mesmo tempo é óbvio que se concentra na ação dessas potências na Ásia e mais amplamente na região do Indo-Pacífico, onde se produz 60% do PIB mundial e estima-se que nos próximos anos absorva 70% da demanda de energia. É uma região que já constitui um importante “canal” de navegação comercial mundial e cabe assinalar que com base nos dados de 2017, 40% do comércio mundial de gás natural liquefeito (GNL) foi realizado através desta região.

Uma grande parte da Marinha e da Força Aérea dos EUA já se encaminhou para o Pacífico. Novas bases militares dos EUA estão sendo construídas e são realizados exercícios militares em grande escala na região.

Na mesma região estão em curso disputas por fronteiras marítimas e terrestres, onde está claro que a China pretende questionar o Direito Internacional do Mar e os direitos soberanos da região, como o Vietnã. Falando no início deste ano na 76ª sessão da Assembleia Geral da ONU, o presidente do Vietnã Nguyen Xuan Phuc pediu aos países da região para evitar ações unilaterais no mar do Leste (ou Mar do Sul da China) assinalando a Lei do Mar [1] . Poucos dias antes, a porta-voz da Chancelaria do Vietnã, Le Thi Thu Hang, havia enfatizado que o Vietnã protegerá as ilhas dos arquipélagos Hoang Sa e Truong As, cuja soberania é disputada pela China [2] .

Não foi por acaso, então, a visita da vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, ao Vietnã e outros países da região. Recorde-se que a partir de 2016, após um recurso unilateral das Filipinas, existe uma resolução do Tribunal de Haia que rejeita as reivindicações chinesas, o que, no entanto, não é reconhecido pela China sob o pretexto de que se trata de uma questão de soberania nacional sobre a qual o referido tribunal não tem jurisdição.

Os EUA voltam a buscar registrar-se como “autoproclamado protetor” dos povos, desta vez dessa região específica, diante dos planos de expansão dos monopólios chineses e das aspirações da China no Sudeste Asiático. Está ficando claro que o conflito não deixará os meios de guerra “fora de cena”. De qualquer modo, os EUA são atualmente a força militar mais poderosa, enquanto a China, com seu alto ritmo de gastos militares, busca preencher essa lacuna. A recente retirada dos Estados Unidos do Afeganistão e dos sistemas “Patriot” da Arábia Saudita visa, entre outras coisas, redistribuir as forças militares dos Estados Unidos na direção de fortalecer a presença dos Estados Unidos no Indo-Pacífico.

Além disso, nos últimos anos, a cooperação entre os EUA, Índia, Japão e Austrália tem se reforçado na forma do “Diálogo Quadrilateral de Segurança” (QUAD), claramente visando a China, algo que foi visto nos exercícios militares desses países sob o nome Malabar nos últimos dois anos. Esses exercícios foram promovidos como o pilar da chamada “versão asiática da OTAN” e o objetivo de confrontar a influência militar e política da China na região foi claramente definido.

O foco está no Estreito de Taiwan, que visa expandir as alianças de ambos os lados, enquanto se utilizam as construções ideológicas de "democracia", "autodeterminação" e integridade territorial. A estratégia da OTAN para 2030 reforça a orientação contra a China.

Nesse contexto se formou o acordo “AUKUS”.

 

O confronto pela supremacia no sistema imperialista

 

A nova aliança construída pelos EUA aponta claramente contra a China, que objetivamente está criando as condições prévias para ameaçar a primazia dos EUA no sistema imperialista mundial nos próximos anos.

Não é por acaso que a CIA criou um centro especial de vigilância da China. Sua dinâmica se reflete no aumento significativo da participação da China no Produto Mundial no período 2000-2020, bem como no aumento espetacular do déficit comercial dos Estados Unidos no comércio bilateral com a China (durante o período 1985-2019). Nesta base, durante este período houve uma série de "guerras" comerciais, com os EUA dando peso especial para manter sua supremacia ao nível das novas tecnologias e ao mesmo tempo limitar a expansão da China em todo o setor, o que ao mesmo tempo, significaria expandir sua influência política (por exemplo, o esforço intensificado para excluir a China das redes 5G na Europa). Além disso, o governo dos EUA aproveitando a enorme redução de impostos sobre o capital, chamou os monopólios norte-americanos de novas tecnologias que operam na China a repatriar suas plataformas de produção. Está promovendo seus próprios interesses e fazendo esforços para impedir a expansão chinesa que implementa o projeto “Rota da Seda”, aumenta a exportação de capitais e realiza grandes investimentos em outros países, na Ásia, África e outras regiões.

A existência do conflito entre os EUA e a China pela supremacia mundial não é mais questionável. A atenção se concentra em se está em desenvolvimento uma nova “guerra fria”,  uma confrontação entre uma superpotência capitalista e uma socialista, seja com “características chinesas”. Porém, a realidade é que estamos falando de Estados Unidos e China, ou seja, duas potências do mundo capitalista atual. A China é atualmente uma base forte de grupos monopolistas, membro ativo de instituições capitalistas internacionais, como a Organização Mundial do Comércio e o Banco Mundial. Além disso, está estreitamente vinculada à economia capitalista mundial. As multinacionais são uma força motriz vital para a circulação nacional da China ”[3] .

O fato da China ser governada por um partido que se intitula "comunista" não nega o fato de que as relações capitalistas de produção predominam na China. É certo que desde 2012 até hoje, consistentemente mais de 60% do PIB da China é gerado pelo setor privado [4] . Além disso, uma estrutura legal correspondente foi desenvolvida em favor dos capitalistas na China, que lhes permite explorar cruelmente centenas de milhões de trabalhadores para acumular sua riqueza. A China "compete" com os EUA também no que diz respeito ao número de bilionários. De acordo com o instituto de pesquisa Hurun de Xangai, no início de 2021 a China foi o primeiro país do mundo onde o número de bilionários ultrapassou 1.000, chegando a 1.058. [5]Bilionários na China controlam colossais grupos de comércio eletrônico, fábricas, hospitais, shoppings, cinemas, mídias sociais, empresas de telefonia móvel, etc. O bilionário mais rico do país, Jun Sansan, que enriqueceu com a indústria de água engarrafada, com uma fortuna pessoal de 67,3 bilhões de dólares, enquanto a fortuna do número dois da mesma lista, Ma Huateng, que lida com novas tecnologias e foi eleito membro do parlamento, do Congresso Nacional do Povo, chega a 46 bilhões de dólares [6]. Enquanto isso, dezenas de milhões de pessoas são excluídas dos serviços sociais contemporâneos, o luxo desses milionários e bilionários mostra claramente a enorme injustiça e exploração social que caracteriza o modo de produção capitalista na China. Ao mesmo tempo, os monopólios chineses, como todos os monopólios de qualquer origem, exploram a classe trabalhadora em suas empresas no exterior, como faz o gigante marítimo Cosco na Grécia, no porto de Pireu, onde os trabalhadores há poucos dias organizaram um greve de sete dias, homenageando o colega que recentemente acabou morto no local de trabalho, exigindo medidas de proteção à saúde e segurança às quais os empregadores responderam com chantagem e recorrendo aos tribunais burgueses para declarar a greve ilegal.

Assim, não tem nenhuma base verdadeira e são argumentos enganosos os que dizem que a China, como a Rússia Soviética fez, está implementando uma espécie de NEP (Nova Política Econômica), em colaboração com o capital privado, para desenvolver suas próprias forças produtivas. Os dados acima corroboram que, objetivamente, não há base para comparar a NEP com a situação atual na China. Além disso, a duração da NEP era limitada e caracterizada como uma “retirada”, como Lênin havia destacado [7] em várias ocasiões e não foi ideologizada como elemento de construção socialista, como é o caso do predomínio das relações capitalistas na China, utilizando a construção ideológica do “socialismo com características chinesas”. Além disso, no período da NEP, os empresários não podiam ser membros do Partido Bolchevique e, com base nas duas Constituições Soviéticas (de 1918 e 1925) aprovadas naquele período, foram privados de seus direitos políticos, ao contrário à China de hoje, onde dezenas de empresários ocupam cargos no parlamento e no Partido Comunista.

É por isso que a nova "bipolaridade" nada tem a ver com o embate entre os EUA e a URSS. Hoje, os EUA e a China se chocam sobre a base do domínio das relações capitalistas de produção prevalecentes e conduzem à competição por matérias-primas, rotas de transporte, quotas de mercado, influência geopolítica, que não podem ocultar a competição interimperialista pela supremacia do sistema imperialista.

 

"AUKUS" - outra alavanca da guerra imperialista

 

AUKUS prevê uma ampla gama de cooperação da diplomacia e defesa, até as cadeias logísticas e a inteligência artificial. No entanto, o peso da atenção neste acordo foi dado ao fato de que os EUA e a Grã-Bretanha fornecerão à Austrália as "chaves" da tecnologia nuclear, violando os respectivos acordos sobre a não proliferação de tecnologia nuclear para fins militares e vendendo oito submarinos de propulsão nuclear, convertendo a Austrália no 7º país no mundo que têm tais submarinos, depois de EUA (71), Rússia (33) China (14), Grã-Bretanha (11), França (10) e Índia (2).

A aquisição desses submarinos pela Austrália possibilitará a participação em operações navais militares longe de seu território, ou seja, na região Indo-Pacífico, onde estão voltadas as atenções dos EUA e da OTAN, visto que esses submarinos são quase silenciosos e podem viajar longas distâncias sem ter que reabastecer.

Além disso, os EUA adquirem capacidade para expandir suas bases militares aeronáuticas na Austrália. Alguns milhares de soldados americanos já estão lá. A infraestrutura que está sendo preparada tem a ver com a possibilidade de atracação de porta-aviões, submarinos nucleares e bombardeiros estratégicos.

 

As perturbações na NATO e na UE e a "autonomia estratégica" da UE e outras grandes potências

 

O acordo AUKUS conseguiu “sacudir as águas” das alianças “estáveis” do imperialismo euro-atlântico, da OTAN, das relações dos EUA com a UE e em particular com a França. Esta última reagiu caracterizando o cancelamento de sua encomenda de 12 submarinos convencionais no valor de cerca de 56 bilhões de euros como uma punhalada nas costas.

Logo após o pacto, mais uma vez, uma série de avaliações enganosas prevaleceram em vários meios de comunicação como, por exemplo, que os EUA se retiram de muitas regiões, que a paz exige a "autonomia estratégica" da UE e de outros países, como a Índia, que no passado desempenhou um papel de liderança como 'não alinhado'.

Porém, a realidade é distinta. Os EUA estão reorganizando suas forças militares. Assim, por exemplo, não só não abandona a Grécia, mas também fortalece suas bases militares, expande a base aérea de Suda que foi usada nas guerras imperialistas contra o Iraque, Síria e Líbia, cria uma nova infraestrutura militar (Alexandrúpoli, Lárisa, Stefanovikio, etc.), embora com o acordo entre a Grécia e os EUA que foi assinado em 14 de outubro de 2021, eles podem usar toda a infraestrutura militar da Grécia inicialmente por um período de 5 anos e depois indefinidamente.

Além disso, carece de fundamento o argumento de que com uma UE "mais forte" e independente, a paz poderia ser efetivamente garantida como um "fator de equilíbrio" no confronto entre EUA, China e Rússia.

A UE é uma aliança das classes burguesas da Europa, que se volta tanto contra os povos da Europa como contra outros países. Portanto, a militarização da UE se aprofunda enquanto os antagonismos imperialistas se intensificam, mergulhando os povos em novos e maiores perigos, a fim de salvaguardar os interesses dos monopólios.

Esta militarização está orientada sobretudo para o interior da Europa, para sufocar qualquer manifestação radical, para reprimir qualquer reivindicação de uma vida melhor, ainda mais se se tratar das necessidades populares contemporâneas e for dirigida contra o capital, a sua rentabilidade e o seu poder.

Além disso, a UE considera o globo como o seu "entorno estratégico" com base na Estratégia Mundial que traçou e se prepara para atualizar com o nome de "Bússola Estratégica" e sua aprovação na próxima presidência francesa. Além disso, visa a penetração mais eficaz dos monopólios europeus em outros países, supostamente a pretexto da defesa dos direitos humanos. Assim, foi estabelecida a chamada “Cooperação Estruturada Permanente” (PESCO). Ao mesmo tempo, promove-se a «Iniciativa Europeia de Intervenção» de inspiração francesa para ultrapassar os atrasos provocados pelo processo de decisão unânime para que as missões imperialistas se realizem de imediato. A UE já enviou 20 missões imperialistas [8] em três continentes.

São tomadas medidas para promover o objetivo da chamada “Autonomia Estratégica” no quadro do reforço da aliança e intervenções conjuntas com a OTAN, que continua a ser o seu principal pilar. Com o objetivo de alcançar capacidade militar autônoma, reforça o planejamento do desenvolvimento de programas de pesquisa e armamentos para o mercado da União Européia, no esforço de reduzir a dependência do mercado de armamentos dos Estados Unidos.

O KKE ao estudar sua História como a do movimento comunista internacional, chegou à conclusão que a percepção que predominou nas fileiras do movimento comunista internacional, que até apontava os países capitalistas fortes como "subordinados" e "colônias" do EUA, e chamava à "independência" da sua política externa, estava errado. Esta percepção errônea, em alguns casos, distinguia a burguesia em "patriótica" ou "subordinada aos interesses estrangeiros", aspirando a criar alianças com o chamado setor patriótico da burguesia. Na realidade, a burguesia de cada país defende os seus próprios interesses, sobretudo para consolidar o seu poder, e a partir disso forma as suas alianças internacionais. A existência da URSS e de outros países socialistas no passado, deu às classes burguesas de alguns países capitalistas a possibilidade de manobras, enquanto limitou essas possibilidades para outros países. Hoje, muitos elogiam o chamado mundo multipolar, enquanto alguns apelam à UE ou aos países da Europa que deixem de ser "subordinados" aos EUA e atuem “de forma autônoma” com base nos seus interesses.

Tais percepções, além das intenções, embelezam ideologicamente a barbárie imperialista mundial, pois consideram que ela pode mudar sem a necessidade de derrubar o capitalismo. Eles rejeitam a percepção leninista do imperialismo, separando a economia da política. Para essas forças, o imperialismo consiste na ação política e militar das forças mais "agressivas" contra a "soberania nacional" de outros países. Assim, elas ignoram o fato de que é a competição monopolística que leva a intervenções militares e guerras imperialistas e não a “forças mais agressivas”. Esta competição desenvolve-se com todos os meios que cada potência capitalista possui em cada país e evidentemente se reflete nos acordos interestatais e nas diversas alianças. Nessas alianças, as classes burguesas abrem mão de parte de sua soberania nacional, dos direitos soberanos de seus países, para garantir seu poder, sempre em busca de novas conquistas. Ao mesmo tempo, eles usam meios de guerra, já que "a guerra é a continuação da política por meios violentos".

Por que os EUA escolheram a perigosa tática de "alianças suaves"?

 

As afirmações de que a OTAN ou o QUAD estão cambaleando após a formação do AUKUS são infundadas. A OTAN, apesar das contradições que se manifestam no seu interior, continua a desempenhar um papel significativo como “braço” do imperialismo euro-atlântico. Assim, está constantemente "cercando" a Rússia, movendo novas forças em direção às fronteiras russas, questionando a soberania russa sobre a Crimeia e as áreas marítimas do Mar Negro, explorando provocativamente o conflito na Ucrânia e ameaçando a Rússia até com o uso de armas nucleares. [9] Além disso, a OTAN já traçou uma linha de confronto com a China.

O QUAD assume um papel especial na tentativa de "conter" a China. Cada uma das classes burguesas de seus países membros (Austrália, Japão, Índia, EUA), por suas próprias razões, está em competição com os monopólios chineses. Ao mesmo tempo, sua existência dá a possibilidade a alguns deles, como a burguesia indiana, que participa concomitantemente de outras organizações, como a Organização de Cooperação de Xangai e os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul ) e é um dos maiores compradores de armas russas, de manobras e ao mesmo tempo faz parte do plano geral dos Estados Unidos que busca mudar a dinâmica que hoje favorece a China.

Assim, desenvolvem-se diferentes “velocidades” no aprofundamento da cooperação entre os EUA e as classes burguesas da região, através de formas “mais suaves” como o QUAD, e de formas mais avançadas como o AUKUS, porem sempre com o mesmo objetivo e na intenção de evitar uma confrontação em grande escala que dificultaria as alianças dos EUA na região.

Além disso, o levantamento das sanções dos EUA para a construção do gasoduto russo NordStream 2 , que termina na Alemanha, foi visto como uma “cenoura” na tentativa da OTAN de fortalecer as relações com a UE e o “componente” europeu euroatlanticismo, face a grande confrontação com a China, sendo respaldada pelo anúncio do acordo entre a UE e os EUA relativo à abolição de tarifas sobre o aço e o alumínio.

A formação do “AUKUS” mostra que os EUA no momento de constituir suas alianças podem utilizar de forma eficaz o chicote também.

 

As tarefas dos comunistas

 

Vários setores destacam como necessidade a exigência de “cumprimento do direito internacional” para que a guerra seja evitada, enquanto se desenvolvem diversas campanhas do tipo “Tirem as mãos da Rússia e da China” ou mesmo em defesa da “China socialista”.

Esse enfoque parece ignorar elementos-chave, como o de que o direito internacional atual se interpreta como melhor pareça a cada um. Assim, os Estados Unidos, que nunca assinaram a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, aprovada em 1982, surge hoje no Mar do Leste (ou Mar da China Meridional) como seu maior defensor. Por outro lado, a China, que ratificou esse acordo internacional, está minando-o todos os dias em prejuízo dos países da região (Vietnã, Filipinas, Indonésia, Malásia, Brunei). Em outras palavras, o que determina a atitude em relação ao direito internacional é a correlação de forças e aspirações geoestratégicas.

Além disso, o ponto de vista que considera os EUA como a potência que viola unilateralmente o direito internacional e, portanto, é a parte atacante e "imperialista", e por outro lado a China e a Rússia como "defensores" e "anti-imperialistas", não tem nada a ver com a realidade. Todas estas grandes potências do mundo imperialista contemporâneo, em diferentes casos e para a promoção dos interesses dos seus monopólios, interpretam o direito internacional como lhes convém e atuam a este respeito. Portanto, este ponto de vista não tem nada a ver com a percepção leninista do imperialismo, que claramente não é simplesmente uma política externa agressiva, mas um capitalismo monopolista. Não tem nada a ver com a percepção do líder da Revolução de Outubro sobre as guerras, suas causas, seu caráter. Lenin, em ocasiões semelhantes, expos essas opiniões dizendo: “Como se o problema fosse: quem foi o primeiro a atacar e não: quais são as causas da guerra? Quais são seus objetivos? Que classes a lideram?” [10]

Portanto, os comunistas não devem se deixar levar por pontos de vista que, intencionalmente ou não, aprisionem o movimento popular em posições pacifistas sem saída, convocando as burguesias ou alianças imperialistas, como a UE, a darem mostras de "autonomia", escondendo o caráter imperialista do conflito pela supremacia no planeta, chamando, finalmente, para tomar partido neste conflito.

O dilema que se coloca diante dos comunistas a optar por um imperialismo não é novo. Como sabemos, se colocou com intensidade durante a Primeira Guerra Mundial e levou à dissolução da Segunda Internacional. Depois, entre outros, “os social-chauvinistas franceses asseguraram [aos trabalhadores] que os países da Entente eram“ o lado da defesa”, “os portadores do progresso”na luta contra o prussianismo agressivo” [11] . Hoje, algumas forças nas fileiras do movimento operário e comunista internacional nos chamam a apoiar a China diante da nova confrontação interimperialista, que a consideram "socialista com características chinesas", distorcendo ou ignorando a realidade e a nossa visão de mundo.

Nessas circunstâncias é importante não só se opor à guerra imperialista, mas também a todas as "nuances" imperialistas, às velhas e novas alianças imperialistas, lutar pelo desligamento do país dos planos e alianças imperialistas, pelo poder popular, pelo o socialismo.

Nesse sentido, o KKE votou contra os chamados "acordos de defesa" da Grécia com os EUA e a França no parlamento. Opôs-se aos enormes gastos militares do país e sublinhou que estes se realizam no âmbito do esforço da burguesia grega para melhorar a sua posição nos planos e organizações imperialistas.

Os comunistas informam sistematicamente a população e mobilizam os trabalhadores e a juventude.

O KKE desempenha um papel destacado no movimento anti-guerra e antiimperialista, em geral no movimento operário e popular, contra a criação de novas bases militares na Grécia, para o desmantelamento de bases militares e infraestruturas dos EUA e da OTAN, para dificultar a transferência de armas nucleares ao país.

O KKE exige que a participação das forças armadas gregas em missões imperialistas além das fronteiras seja interrompida, que o povo não pague pelos armamentos que servem aos planos agressivos da burguesia grega, as intervenções e as guerras euro-atlânticas, para que a Grécia não participe de exercícios militares dirigidos contra outros estados.

O KKE busca fortalecer a solidariedade internacionalista com os povos que lutam e sofrem com as intervenções e guerras imperialistas.

Além disso, luta pela desvinculação do país das uniões imperialistas da OTAN e da UE, considerando que isso pode ser alcançado em benefício dos interesses populares através do poder dos trabalhadores, da luta pela derrubada do capitalismo e da construção do socialismo-comunismo.

* Artigo da Seção de Relações Internacionais do Comitê Central do Partido Comunista da Grécia (KKE) de 18.11.2021

Notas:

[1]      Discurso do Presidente do Vietnã, 25/09/2021, https://vietnam.vnanet.vn

[2]      "O Vietnã protege sua soberania marítima de acordo com o direito internacional, diz o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores" fonte: Rádio "A voz do Vietnã" https://vovworld.vn/es-ES/noticias/vietnam-protege-su-soberania - marítimo-de-acordo-com-o-direito-internacional-afirma-o-ministro-porta-voz-1022261.vov , 2/9/21

[3]               Título do artigo publicado no jornal Diario del Pueblo, http: //en.people.cn/n3/2021/0719/c90000-9873653.html, 19/07/2021.

[4]       jornal Diario Popular , http://spanish.peopledaily.com.cn/n3/2019/0309/c31620-9554385.html 03/06/2019

[5]           Agência de notícias INTERFAX, https://www.interfax.ru , 02/03/2021

[6]           Jornal Diario Popular,  http://russian.people.com.cn , 29/10/2021

[7]           VILenin, "IX Congresso dos Sovietes de toda a Rússia", Complete Works, vol. 44, ed. Synchroni Epochi, p. 310.

[8]            Site oficial do Serviço Europeu para a Ação Externa https://eeas.europa.eu/headquarters/headquarters-homepage/83616/eu-military-operations-and-civilian-missions_en

[9]           Veja os comentários do Ministro da Defesa da Rússia, S. Shoigú, em 23/10/2021, https://tass.ru/

[10]         VILenin: "Carta aberta a Boris Souvarine", "Obras Completas", v. 30, ed. "Synchroni Epochi", p. 265.

[11]         Academia de Ciências da URSS, História Mundial , v. Ζ2, p.737 (em russo Ζ, p. 541)

Fonte: https://inter.kke.gr/es/articles/El-impacto-de-AUKUS-en-los-desarrollos-internacionales-y-la-postura-de-los-comunistas/

Edição: Página 1917 

 

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