Ney Nunes
Por trás das aparências enganosas do jogo político burguês, desenvolve-se no Brasil um confronto cada vez mais radicalizado entre as três vertentes políticas da guerra de classes sociais. Em meio a esse confronto, as diversas siglas partidárias, centrais sindicais, denominações religiosas, aparelhos de comunicação de massa e ONG’s formam um nevoeiro que pode nos turvar a visão. Na verdade, toda essa aparente diversidade se resume basicamente em três eixos, que constituem os três exércitos em confronto na guerra de classes brasileira.
Foto: Pablo Vergara - 2013 |
Os Três Exércitos
O primeiro exército, aquele que está no poder desde o fim da ditadura empresarial-militar de 1964, é o da Democracia Burguesa. Ele é dirigido pelo setor hegemônico da grande burguesia, essencialmente composto pelo setor financeiro, pelas megaempresas dos ramos de comunicação de massa, oligopólios industriais/comerciais, do agronegócio e da mineração. Estão umbilicalmente ligados às potências capitalistas, numa relação subalterna e oportunista que visa garantir seus lucros no processo em curso há três décadas de reprimarização da economia brasileira. O seu arco político é bem amplo, abarcando direita, centro e esquerda. Acomoda o neoliberalismo e o neodesenvolvimentismo na perspectiva do mercado e de uma suposta harmonia entre as classes sociais.
O segundo exército é a extrema-direita, neofascista, uma variante radical do primeiro exército. Emergiu na crise político-social da própria democracia burguesa que acumulou muitos desgastes, passando a ser questionada por amplos setores da população. Foi maturado na situação caótica e de pré-barbárie instalada nas periferias das grandes cidades brasileiras. Chegou à presidência nas eleições de 2018 graças a aliança com os evangélicos pentecostais (anteriormente aliados dos governos petistas), o que lhe conferiu uma base de massas, conseguindo derrotar os candidatos preferenciais da grande burguesia, que por seu turno, fez do candidato neofascista seu plano B para impedir a volta do PT ao governo. Esse segundo exército é liderado por grandes e médios empresários dos mais variados setores econômicos e regiões do país, articulados com as seitas pentecostais, forças armadas, policiais e o banditismo narco-miliciano. Seu projeto político de poder é uma ditadura empresarial-militar de cunho fascista, aprofundando a relação subalterna com o imperialismo, suprimindo oposições e reprimindo com violência qualquer tentativa de resistência das massas exploradas.
O terceiro exército ainda carece de um programa, organização, unidade e poder de fogo à altura da tarefa que tem pela frente. Podemos dizer que, nesse momento, dos três, ele é o mais fragmentado e desarticulado. Estamos falando do exército do proletariado. A sua debilidade atual nasceu justamente da enorme pressão exercida pelo primeiro exército (democracia burguesa) sobre todos os seus flancos, corrompendo e cooptando seus “oficiais” em todos os níveis, ao ponto de se conformar numa quinta coluna poderosa que se tornou hegemônica no seu interior, pregando a doutrina da conciliação de classes e da humanização do capitalismo. Essa quinta coluna tem nome e sobrenome, trata-se da velha socialdemocracia, agora travestida com sua roupagem pós-moderna.
O exército proletário contra o bloco burguês
É nesse contexto que a guerra prossegue. As investidas da burguesia e do imperialismo contra o proletariado são cada vez mais incisivas e radicais. Direitos elementares são retirados, necessidades básicas são negadas, tudo em função da maximização do lucro e da concentração de riquezas. O Bloco burguês-imperialista conta com dois exércitos experientes e bem armados: a democracia burguesa e o neofascismo. A história já nos ensinou através dos golpes de estado, intervenções militares e, principalmente, duas Guerras Mundiais, das barbaridades e genocídios de que são capazes esses dois exércitos.
Apesar das condições adversas, acreditamos que a possibilidade de uma vitória do exército proletário repousa em três pilares a serem cimentados por sua vanguarda (instruída e coesionada pelo seu partido revolucionário):
1- Resgatar o projeto histórico de poder da Comuna de Paris e da Revolução Soviética.
2- Desvencilhar-se da quinta coluna socialdemocrata, denunciando suas traições e seu oportunismo a serviço da gestão capitalista e do imperialismo.
3- Reconstruir suas organizações no calor dos combates, forjando o programa e a unidade necessários para derrotar os dois exércitos do inimigo de classe em todos os terrenos da luta de classes.
Edição: Página 1917.
Nenhum comentário:
Postar um comentário