Índice de Seções

quarta-feira, 12 de abril de 2023

O início do governo Lula-Alckmin: a consolidação da ofensiva burguesa e a volta da política de cooptação

Coletivo Cem Flores

27/03/23

A ofensiva burguesa prossegue com o governo Lula/Alckmin


[...] Em toda a história do proletariado e das classes dominadas em sua luta contra a exploração capitalista, sempre houve grupos e forças políticas cujo objetivo é iludir os/as trabalhadores/as em luta, dificultar o avanço de sua organização e do enfrentamento contra os patrões. Fazem isso apostando na “conciliação” entre trabalhador/a e patrão, em fajutas soluções para o proletariado via eleições e instituições burguesas. Esses grupos, que fingem estar do lado do proletariado, na verdade atuam como verdadeiros representantes dos capitalistas em suas fileiras. Ajudam a manter o sistema de exploração capitalista, legitimam a democracia burguesa e as instituições do estado capitalista, atam o proletariado à burguesia e seus representantes políticos, enfim, emperram o caminho da nossa verdadeira emancipação.

Esses grupos reformistas e oportunistas são a verdadeira “esquerda” do capital. Bastante influentes nas camadas médias e na aristocracia operária, querem mesmo é a manutenção do capitalismo, com a miséria minimamente sob controle, assim como a luta dos/as trabalhadores/as (como se isso fosse possível no capitalismo!). De preferência com eles em cargos dirigentes e de liderança no estado capitalista, ou seja, com influência na política burguesa – e todas as mordomias que isso significa.

Desde sempre também os/as comunistas buscam independência de tal gente, assim como combatê-las e denunciá-las aos olhos das massas. No Manifesto Comunista, contra aqueles que buscavam “atenuar a luta de classes e conciliar os antagonismos”, Marx e Engels afirmavam: “nunca, em nenhum momento, esse partido se descuida de despertar nos operários uma consciência clara e nítida do violento antagonismo que existe entre a burguesia e o proletariado”. Lênin, no Estado e Revolução, denunciou abertamente os oportunistas que viam no estado capitalista um órgão de uma fajuta “conciliação de classes”. Acusou aqueles que se desligavam da massa e “se ‘arranjam’ bastante bem sob o capitalismo”, vendendo sua independência por cargos nesse estado.

Como expressão maior do reformismo e do oportunismo no Brasil, o petismo desde seu início defende a sujeição do proletariado à burguesia, com um projeto de desenvolvimento capitalista “inclusivo” e “democrático”, buscando a ocupação dos espaços no aparelho de estado burguês e alianças com a burguesia – mesmo sob certa verborragia “socialista” em seu surgimento. Na prática, se construiu ao longo dos anos, de sua atuação sindical nos anos 1980 à presidência da república, como um fator fundamental na desorganização e bloqueio da luta proletária no país, a partir da “conciliação” com os patrões e da “institucionalização” dos enfrentamentos, ou seja, na subordinação das massas aos interesses burgueses.

Nos governos do PT, o proletariado e as demais classes trabalhadoras não tiveram avanços em sua organização e instrumentos de luta. Pelo contrário. Como já afirmamos, tais governos cumpriram um papel “desorganizador dessas massas trabalhadoras, iludindo-as com a institucionalidade do estado burguês e rebaixando-as politicamente a meros apêndices do aparelho sindical pelego ou à passividade eleitoral e, assim, enfraquecendo-as para a luta de classes, desarmando-as de sua posição política própria e independente”.

O único fortalecimento que o petismo proporcionou foi o fortalecimento do pelego e de “lideranças”, que começaram a ganhar cargos que nunca antes ocuparam e a gerenciar volumes de dinheiro inéditos. Enquanto o petismo catapultava um Jair Meneguelli de sindicalista a milionário que negocia cavalos de luxo, juntava a burguesia e representantes de operários para discutirem o “futuro da nação”, em harmoniosas reuniões nos palácios de Brasília, a taxa de sindicalização caia de 20% para 16%; a exploração aumentava a passos largos e os salários reais dos operários das indústrias de origem do PT ficavam estagnados.

E quando a massa resolveu lutar fora dessas correias de transmissão, o PT demonstrou também seu lado abertamente repressivo: só ver as greves nas grandes construções (Jiaru, Santo Antônio, Belo Monte) e nos estádios da copa, nas alianças entre CUT e guarda nacional, ou na aliança Haddad-Alckmin para reprimir os manifestantes de SP em 2013, dez anos atrás.

O novo governo Lula-Alckmin, desde a transição governamental no final do ano passado, tem mostrado interesse e prioridade em dar continuidade a essa história nas condições concretas de hoje. Está reconstruindo no coração do estado capitalista toda a máquina de cooptação de movimentos sindicais e populares e suas lideranças, todo seu aparato de desmobilização e sabotagem da luta independente de classe.

Até por saber dessa possibilidade, diversos grupos e movimentos da “esquerda” do capital apoiaram sem críticas a chapa Lula-Alckmin e seu programa de consolidação e continuidade da recente ofensiva burguesa. Como o caso do PSOL, que fingiu inicialmente impor “compromissos programáticos” para seu apoio nas eleições – compromissos que não foram, nem nunca serão, praticados por Lula-Alckmin, sabidamente. Após a encenação, tal partido hoje compõe o governo, ocupando um ministério e indicando cargos, inclusive no ministério de Jader Barbalho Filho, até ontem “golpista” MDB.

Grupos de discussão e espaços consultivos, envolvendo “representantes” de trabalhadores/as e patrões foram usados amplamente nos governos petistas anteriores. E agora voltam a funcionar. O gabinete de transição, dirigido pelo “companheiro” Alckmin, contou com um tamanho impressionante: cerca de 5 mil participantes! O ministério do trabalho já está com grupos de trabalho junto às centrais sindicais pelegasUm conselho de “participação popular” já foi criado, e um novo “conselhão”, que reúne também diversos nomes da burguesia, está em construção.

A pelegagem defende tais espaços como “democráticos”, “participativos”, “de diálogo”. Mas na prática, trata-se de uma tática de enrolação e de cooptação do governo, feita para empregar essa pelegagem, desviar o foco das lutas e mobilizações para reuniões em Brasília e amarrar todos os movimentos à política de subordinação aos interesses da burguesia. No período em que esses espaços estavam em funcionamento, a organização das massas não avançou e nenhuma conquista tivemos nessas rodas de conversa e nos inúmeros relatórios gerados!

Esses mesmos pelegos e movimentos populares reformistas, também como nos governos anteriores do PT, estão ganhando cargos e tendo novas perspectivas de financiamento. Não à toa se mantêm como correia de transmissão desse governo, tutelados pela agenda governamental. Ex-presidentes da CUT ganharam seus assentos no ministério do trabalho, Marinho e Vagner, mas esse último já saiu para ganhar bem mais no Sesi… O MST, depois de muito chiar, tem conseguido mais cargos e controlará, por exemplo, uma pasta bilionária no ministério do desenvolvimento agrário e agricultura familiar.

Aos/Às trabalhadores/as é preciso ficar bastante claro que acreditar e se integrar à máquina estatal é concomitante o abandono da luta e da organização das massas exploradas. Ao se tornarem ainda mais agentes do governo e da ordem, essas “lideranças” pelegas agem diretamente para sabotar qualquer mobilização que choque os interesses da burguesia e seu governo. Um exemplo recente foi a desmarcação de uma paralisação dos entregadores por parte de lideranças que foram recebidas na mesa de enrolação do ministério do trabalho. Por sua vez, o ministro do desenvolvimento agrário do PT se reúne com empresa dona de terra, diz que a invasão do MST foi caso isolado e defende a desocupação da terra. Enquanto isso, fazendeiros, extrema-direita e PM expulsam violentamente militantes do MST na Bahia

Somando-se a essa política de cooptação de lideranças e movimentos, há também por parte do governo a distribuição de migalhas para bases eleitorais nas classes populares e camadas médias, cujo objetivo é evitar explosões de revoltas e manter índices de popularidade. Com o espaço fiscal garantido com a PEC do ano passado, o governo iniciou o ano com várias medidas “populares”, como aumento real do salário mínimoampliação do bolsa família e reajustes em bolsas de estudosDevemos sim exigir melhorias nos salários, nas bolsas e mais rendas emergenciais diante do imenso desemprego, sem, no entanto, entrarmos no jogo deste governo que, como vimos, é um governo dos patrões.



Todos esses eventos precisam ser analisados concretamente, longe dos discursos ilusionistas do governo e da “esquerda”. Devemos perguntar com Lênin“esta política representa as massas, serve as massas, isto é, a libertação das massas do capitalismo, ou representa os interesses de uma minoria, a sua conciliação com o capitalismo?”.

Ora, a política de “conciliação” e todos os mecanismos de cooptação, antes e agora, servem no fundamental para a continuidade da escravidão assalariada e da dominação burguesa. As migalhas e os espaços abertos nesse processo seguem uma determinada linha política oportunista, cujo objetivo é renovar a legitimidade e aperfeiçoar as instituições burguesas e sua capacidade de desmobilização das massas. Tal política pode até significar mudanças reais para uma minoria de “lideranças” pelegas, que ganham cargos e destaque, mas para as bases, as grandes massas, em nada altera a vida dura, as condições cada vez piores de trabalho.

Enfim, o objetivo de todos esses reformistas e desse novo governo não é fazer avançar a luta contra a burguesia e seu estado. Não são solução para nós! E quando essa luta de fato avançar, a postura supostamente democrática vai ser substituída pela repressão e pela violência, como já visto anos atrás.

Edição: Página 1917

Fonte:https://cemflores.org/2023/03/27/o-inicio-do-governo-lula-alckmin-a-consolidacao-da-ofensiva-burguesa-e-a-volta-da-politica-de-cooptacao/


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Caro leitor, ajude a divulgar o Página 1917, compartilhe nossas publicações nas suas redes sociais.