Ney Nunes
Ontem, a âncora do Jornal Nacional se
referiu, enfaticamente, aos profissionais de saúde como sendo os “nossos
heróis”. Ela noticiava a crise causada pela pandemia do coronavírus nos
sistemas de saúde de vários países. As cenas e relatos que nos chegam dos
hospitais sobrecarregados são mais do que impactantes, com médicos e
enfermeiros sob grande estresse físico e emocional, correndo risco de
contaminação (muitos inclusive morrendo depois de infectados), obrigados a
decidir entre os pacientes quais tentarão salvar, pressionados pela falta de
leitos e equipamentos disponíveis. Sim, não restam dúvidas de que eles merecem
todo o nosso reconhecimento e respeito.
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Itália, profissionais de saúde submetidos ao máximo estresse. |
Mas,
quando a apresentadora do telejornal pronunciou “nossos heróis”, de imediato
acionou um gatilho na minha memória e comecei a recordar como, aqui em nosso
país, era a cobertura dessa mesma mídia sobre a política de saúde e as
condições de trabalho desses profissionais antes da epidemia do coronavírus.
Lembrei especialmente do desmonte da rede pública hospitalar, com o incremento
da terceirização dos serviços, privatização através das famigeradas
“Organizações Sociais”, que resultaram no achatamento salarial e em péssimas
condições de trabalho para esses profissionais. Outra lembrança, essa bem
recente, foram as reformas trabalhista e da previdência, que prejudicaram
trabalhadores do setor privado e o funcionalismo público, incluindo aí todos da
área de saúde.
Diante desses episódios qual foi o
posicionamento dos âncoras e comentaristas do oligopólio midiático? Por acaso,
em algum momento, defenderam os “nossos heróis” da sanha exploradora dos
grandes empresários e seus capachos políticos Michel Temer e Bolsonaro? Ou,
pelo contrário, se colocaram a favor de todos os ataques feitos em nosso país
contra a saúde pública e seus profissionais, contribuindo pesadamente para que
chegássemos na situação caótica e precária de hoje? Basta rever programas,
reler jornais, para constatar que o posicionamento foi sempre contra o sistema
público, a favor da privatização e contra os direitos dos profissionais de
saúde e demais servidores públicos.
Por trás da elogiosa referência aos nossos heróis, na verdade,
esconde-se a mais cínica hipocrisia.
Muito bem lembrado!!
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