Em abril de 1987, por ocasião dos cinquenta anos do falecimento de Antonio Gramsci, enviei o artigo “Antonio Gramsci Vive” para publicação no jornal Convergência Socialista, semanário da organização na qual eu militava. O artigo foi vetado e jamais publicado. Do dirigente político responsável pelo jornal, recebi a seguinte justi-ficativa: “Gramsci é um personagem controverso”.
Passados trinta e dois anos, reencontrei o original datilografado nos meus arquivos. Durante esse tempo o velho Gramsci se tornou bem mais conhecido aqui no Brasil, muitos livros, ensaios e artigos sobre ele e seus escritos foram publicados. Todavia, entendo que o alerta que fiz sobre as deturpações infligidas ao pensamento do comunista italiano permanece válido.
Ney Nunes, 27/04/2019.
Antonio Gramsci Vive!
Há cinquenta anos morria Antonio Gramsci, foi no dia 27 de abril de 1937 em Roma, Itália, seis dias após o término de sua pena. Internado em uma clínica, não resistiu aos dez anos que passou nas prisões fascistas.
Muito se tem escrito sobre a vida e a obra desse revolucionário italiano, inclusive no Brasil, na maioria das vezes tentando deturpar o seu pensamento. Com os objetivos mais torpes já lhe imputaram desde uma teoria anti-leninista do Estado, até a paternidade do eurocomunismo. Porém, toda essa falsificação sobre Gramsci é facilmente desmascarada se examinarmos com atenção um pouco da sua vida militante, dedicada a classe operária e a revolução socialista.
Fundador do Partido Comunista Italiano e seu principal dirigente de 1924 até a sua prisão em 1926, Gramsci pautava pela defesa intransigente da independência política da classe operária, da via revolucionária para a derrubada do capitalismo e pelo internacionalismo proletário.
Nas suas obras encontramos o testemunho da sua ação, em setembro de 1924 ele assim escrevia sobre a internacionalização da revolução: “A crise econômica italiana só pode ser resolvida pelo proletariado. Só inserindo-se numa revolução europeia e mundial, o povo italiano pode reconquistar a capacidade de fazer valer as suas forças produtivas humanas e voltar a desenvolver o aparelho nacional de produção.”.(1)
A crise União Soviética com a ascensão do stalinismo, encontrou em Gramsci um opositor da burocratização e dos métodos repressivos. Em outubro de 1926, ele afirmou numa carta ao comitê central do PCUS: “Os companheiros Zinoviev, Trotsky e Kamenev contribuíram potentemente para nos educarem para a revolução, frequentemente nos corrigiram enérgica e severamente, foram os nossos mestres. Dirigimo-nos especialmente a eles como maiores responsáveis da atual situação, porque desejamos estar certos de que a maioria do CC da URSS não pretende triunfar sozinha na luta e está disposta a evitar medidas excessivas.”(2)
Anos mais tarde, segundo relato de alguns dos seus companheiros de cárcere, ele definiu a política de Frente Popular como: “Uma política que visava à defesa das instituições democrático burguesas e não uma política no sentido da revolução socialista.”(3)
Estas poucas citações, creio servirem para se ter uma ideia da distância que separa Gramsci dos conceitos teóricos e políticos que lhe são imputados pelos falsificadores do seu pensamento. Acredito que os estudos referentes a sua vida e obra contribuirão, em muito, para elevar a formação política dos nossos militantes.
Ney Nunes
Rio de Janeiro, 27 de abril de 1987.
(1) Antonio Gramsci, Escritos Políticos, Vol 3, (p.126), Seara Nova, Portugal, 1977.
(2) A Vida de Antonio Gramsci, Giuseppe Fiori, (p.267), Paz e Terra, 1979.
(3) A Favor de Gramsci, Maria-Antonietta Macciocchi, (p.93), Paz e Terra, 1976.
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