Ney Nunes
Um filho da classe trabalhadora
que enveredou pela militância sindical e política, alcançou grande prestígio
popular e chega até a presidência da república. Seu governo, em que pese a grande
expectativa gerada nos meios de esquerda, se caracteriza pelo gerenciamento dos
negócios do Estado burguês e por uma política de conciliação de classes
facilitada por um período de crescimento da economia capitalista mundial. Devido
ao sucesso dessa política, ele termina o primeiro mandato envolto em grande
popularidade e consegue a reeleição. No segundo governo repetiu a fórmula conciliatória
e, mais uma vez, ela foi pavimentada pela valorização das denominadas
“commodities”.
Envolto na aura de grande estadista, promovido
pelos meios de comunicação, enaltecido pelo grande empresariado, pelas multinacionais,
por governantes dos países ricos e pelas instituições do capitalismo
internacional, ele concluiu o segundo mandato em condições de eleger o seu sucessor,
o que acabaria por conseguir, fechando um ciclo de grandes vitórias pessoais e do
seu partido.
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Lula discursa durante greve quando era sindicalista. |
A sua sucessora na
presidência tentou trilhar o mesmo caminho, mas o pano de fundo que permitiu o
sucesso anterior mostrou-se esgotado. O ciclo de crescimento econômico lastreado
num período de estupenda valorização dos produtos da pauta de exportações inverteu
os sinais. A crise capitalista batia à porta. A partir daí, o castelo de cartas
da conciliação de classes ruiu e a ampla coalizão que sustentava o apoio
político no Congresso virou pó. Começaram a surgir graves denúncias de corrupção,
as facções burguesas, antes aliadas, romperam com o governo e articularam com a
oposição de direita um golpe parlamentar para remover a presidente. O seu próprio
vice, uma velha raposa da politicalha burguesa, se colocaria a cabeça dessa conspiração.
Então o destino daquele filho
da classe trabalhadora não seria mais o mesmo. Os tempos de tranquilidade e bonança,
de prestígio político, das mordomias e constantes viagens internacionais ficariam
no passado. A crise econômica, parteira da crise política, não deu trégua e, como
consequência, trouxe à público uma enxurrada de denúncias que atingiriam em cheio
o seu governo, o da sua sucessora e até mesmo daqueles políticos que tramaram o
golpe através do impechement. O outrora enaltecido estadista agora se vê
num emaranhado de investigações e processos de corrupção, denunciado por empresários,
altos burocratas e políticos que pouco antes eram parte da sua base de apoio.
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Lula com os parceiros Sarney e Renan |
Como sabemos, esse filho
da classe trabalhadora governou com e para o grande empresariado. Há muito tempo
ele trocou o macacão pelo colarinho branco, tem contas bancárias e padrão de vida
de um político burguês. Ainda assim, há quem ache legítimo que empresas
detentoras de contratos milionários com seu governo, paguem verdadeiras fortunas
por suas palestras. Outros, mais delirantes, defendem que as negociatas
denunciadas não sejam julgadas pela justiça burguesa, reivindicando que deveriam
ser julgadas por um “tribunal da classe trabalhadora”.
Só mesmo no imaginário político repleto de
ilusões de certa intelectualidade pequeno-burguesa, Lula ainda veste seu velho macacão
de metalúrgico.